Enquanto os holofotes estão voltados para quem vai ocupar a Prefeitura de Nova York, Miami vive uma disputa eleitoral ainda mais caótica e imprevisível.
Os miamenses vão às urnas hoje para escolher entre 13 candidatos a prefeito — alguns deles coronéis com um longo (e problemático) histórico de gestão pública.
Um exemplo é o pai do atual prefeito Francis Xavier Suarez, Xavier Suarez.

Suarez Pai também já foi prefeito de Miami, teve chapa impugnada por fraude eleitoral em outra oportunidade e agora está concorrendo novamente — desta vez contra um velho adversário político, o também ex-prefeito Joe Carollo, que é condenado por utilização da máquina pública para prejudicar negócios de eleitores rivais.
Mas a disputa deste ano vai além dos feudos locais.
Apesar de não haver envolvimento formal de partidos no pleito, democratas e republicanos vão acompanhar os resultados de perto para reforçar (ou negar) a tese de transformação da Flórida, antes considerada um swing state, em um estado republicano.
Nessa linha, em um momento de encarecimento da vida na cidade, também será posta à prova nas urnas a transformação de Miami em um polo financeiro e tecnológico com impostos baixos.
Até o Presidente Trump estará de olho, já que tem negócios na região e pretende construir sua biblioteca presidencial na cidade.
Diferentemente do prefeito de NYC, o chefe do executivo de Miami tem poderes menores — quem controla os orçamentos de transporte e segurança pública, por exemplo, é o prefeito do condado de Miami-Dade.
Entre as atribuições do prefeito de Miami estão: apontar o city manager, que é quem toca o dia a dia da cidade; presidir as reuniões da comissão municipal (a câmara legislativa da cidade, com 5 membros) podendo vetar as decisões do colegiado; e direcionar as prioridades de investimento.
Trata-se muito mais de um embaixador da cidade do que de um formulador de políticas públicas.
O grande legado do atual prefeito, Francis Xavier Suarez, foi atrair empreendedores e dar uma cara global a Miami, que renasceu como uma potência econômica nos últimos anos.
Francis gostou tanto do próprio trabalho que chegou a decidir, com o apoio da câmara local, que as eleições deste ano só ocorreriam no ano que vem, juntamente com o pleito que decidirá o novo governador da Flórida.
O prefeito afirmou que a mudança — que coincidentemente o manteria no cargo durante a Copa do Mundo, que terá jogos em Miami — aumentaria o comparecimento eleitoral e tornaria a operação mais barata para os cofres públicos.

Mas seu correligionário republicano Emilio Gonzalez levou o caso à Justiça e garantiu a realização da eleição este ano.
Gonzalez, que já foi city manager de Miami e chefiou o aeroporto da cidade, é tido como o candidato MAGA do pleito e recebeu o apoio do governador Ron DeSantis, mas não de Trump.
Suas grandes promessas são acabar com o imposto sobre a propriedade e reformular os sistemas de emissão de alvarás e licenças da cidade.
Outro candidato republicano é Alex Díaz de la Portilla, que já foi deputado estadual e comissário municipal (uma espécie de vereador) de Miami.
Ele foi retirado da comissão em 2023 por DeSantis após ser acusado de lavagem de dinheiro e suborno — mas foi inocentado.
Suas prioridades são reduzir o crime e melhorar o acesso a moradia. Para isso, ele propôe que as construtoras com projetos na cidade colaborem com um fundo voltado para a construção e reforma de moradias populares.
Os velhos conhecidos Xavier Suarez e Joe Carollo são os outros dois candidatos republicanos com pelo menos 5% das intenções de voto segundo sondagens da Downtown Neighbors Alliance e da Griffin Catalyst (o braço de filantropia de Ken Griffin), segundo a Axios.
Xavier Suarez foi prefeito de Miami entre 1985 e 1993, teve sua chapa impugnada por fraude eleitoral em 1998 e atuou como comissário de Miami-Dade County entre 2011 e 2020.
Ele pretende expandir o bonde de Miami e vai pleitear que a Flórida congele os impostos sobre propriedade de casas até US$ 575 mil e assuma o seguro contra catástrofes das moradias populares.
Seu antigo rival, Joe Carollo, tenta voltar à prefeitura após governar a cidade entre 1998 e 2001. Ele é atualmente um dos cinco comissários da cidade, um cargo que reveza com o irmão Frank Carollo desde 2007. (Com Joe vagando o cargo de comissário, Frank tentará ocupar a vaga novamente.)
Joe, cujas propostas de campanha são melhorar a segurança pública e a oferta de moradias populares de Miami, foi condenado a pagar US$ 63,5 milhões a empresários apoiadores de políticos rivais por utilizar a prefeitura para estrangular os seus negócios.
Os quatro candidatos republicanos batalham por uma vaga no segundo turno, projeta o New York Times; o segundo turno ocorrerá em dezembro caso nenhum postulante alcance mais de 50% dos votos nesta terça-feira.

A outra vaga tende a ficar com Eileen Higgins, que segundo o NYT é tratada pelos concorrentes como a favorita.
No Polymarket, a democrata aparece com 83% de chances de vitória, contra 6% de Emilio Gonzalez.
Eileen, que é comissária do condado de Miami-Dade desde 2018, quer construir moradias populares e oferecer empréstimos para auxiliar os miamenses a manter suas casas.
O outro candidato democrata com chances de vencer a eleição é Ken Russell, que foi comissário da cidade entre 2015 e 2022.
Além de também querer criar moradias populares, Russell diz ter um plano anticorrupção que prevê expandir a comissão da cidade de cinco para sete membros e implementar limites de mandato mais rigorosos.
Caciques republicanos da região têm dito às suas bases que os dois candidatos democratas são extremistas e atentarão contra a agenda de Trump caso sejam eleitos, disse o Politico.
Mas Eileen e Russell garantem que seus eventuais governos não seriam partidários.
  










