A C&A despencou 10% hoje na Bolsa com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, caindo abaixo do preço do IPO que aconteceu há duas semanas. 

As vendas no conceito ‘mesmas lojas’ cresceram apenas 0,8% enquanto a margem bruta caiu 0,5 ponto percentual. Em bom português: a empresa vendeu pouco e perdeu rentabilidade. 

Mas o que mais incomodou os investidores foi o baixo nível de informações dadas ao mercado — uma questão especialmente sensível na C&A, conhecida por não abrir seus números nem mesmo para os bancos que lhe davam crédito quando ainda era uma companhia fechada. 

Num release de literalmente meia dúzia de páginas, a C&A se limitou a dizer que o segmento de vestuário teve performance positiva de receita e margem bruta e que o que puxou os números para baixo foi o segmento de ‘fashiontronics’, formado por celulares e que responde por um quinto das vendas. 

“O release parece feito por uma criança de oito anos”, diz um gestor que tem ações da companhia. 

Na teleconferência, tampouco houve mais detalhes. Para o quarto trimestre, a empresa se limitou a dizer que os resultados estão “dentro do esperado” — sem dizer qual era a expectativa.

A C&A tem três setores com dinâmicas muito distintas de margem — vestuário, financeiro e celulares — mas na prática ninguém sabe ao certo o que aconteceu com cada um deles.  

Parte da queda de margem em eletrônicos se deu por conta do fim da Lei do Bem, que isentava a venda de celulares de PIS e Cofins e agora está puxando a receita líquida para baixo. 

“Se ela tivesse dado mais disclosure, com certeza o price action não seria tão ruim”, diz o analista de uma grande gestora. “O que importa de verdade é a qualidade e a tendência do setor de vestuário — e ao que tudo indica ele não foi assim tão ruim.”

A alocação no IPO, que não contou com grandes gestoras long only (que costumam segurar os papéis mesmo em momentos de stress), também contribui para a dinâmica do papel. 

Com uma demanda forte, de mais de cinco vezes o tamanho da oferta, boa parte dos investidores sofreu muito rateio. “O papel é pouco líquido e muito pulverizado”, diz um gestor. “Quando vem o susto, o cara nem pensa duas vezes para vender.” 

Investidores apontam que, na ponta compradora, estava a corretora do Morgan Stanley, coordenador-líder do IPO e que tem mandato para estabilizar o papel. 

A queda de hoje acontece numa semana de realização da Bolsa, que está acentuando as decepções – vide o caso CVC, que já caiu 20% desde o resultado desastroso da última semana

A incerteza política na América Latina afastou os gringos, mas as principais castigadas foram as empresas de consumo, que estão concentradas nas mãos de locais. “Essa semana tem muito fundo que vai ter uma queda na cota muito pior que a do índice”, diz um analista.