A quebra da Avianca atingiu em cheio a CVC: com passagens mais caras, o passageiro de lazer, mais sensível a preço, acabou desistindo de viajar.
Mas a expectativa era que, no segundo semestre, com alguma recomposição de oferta por parte das companhias aéreas, o preço voltasse a patamares mais racionais, trazendo o cliente de volta.
Não aconteceu.
Pelo contrário: no terceiro trimestre, as vendas e margens caíram mais que o esperado, com a empresa tendo que fazer uma provisão inesperada de R$ 45 milhões para dar conta dos reembolsos e processos de consumidores relativos à Avianca. Para piorar o mal estar, o CFO renunciou.
Numa só tacada, a ação da CVC tombou 14% na sexta-feira após o resultado — levando a empresa a uma queda de 27% no acumulado do ano na Bolsa.
E tem quem ache que o papel ainda está caro.
“A CVC negocia a 17 vezes lucro, dependendo da conta”, diz o analista de uma gestora que conhece bem a companhia. “Nesse mesmo múltiplo, dá pra comprar a Booking, que vem crescendo consistentemente lá fora.”
A principal preocupação é que a tempestade perfeita aconteceu não só pelo efeito Avianca, mas pelo aumento da concorrência. Online travel agencies como a Decolar.com foram mais agressivos nas ofertas de pacotes, obrigando a CVC a reduzir preços.
“O efeito Avianca sobre a demanda mais cedo ou mais tarde passa”, diz um gestor. “O efeito da concorrência, não necessariamente”
No terceiro trimestre, as vendas das lojas abertas há mais de um ano caíram 6%, e o ‘take rate’ — a taxa que sobra para a CVC depois de pagar os hotéis e as passagens aéreas — caiu quase um ponto percentual. Cerca de um terço dessa queda, segundo a própria empresa, veio do reposicionamento de preços.
A demora da CVC para avançar no online é uma das principais queixas no mercado. Com um modelo calcado em franquias, a empresa precisa alinhar os interesses dos franqueados com as vendas online, o que vem atrasando o processo.
O terceiro trimestre, no entanto, frustrou até os mais pessimistas: as vendas online, que vinham crescendo a dois dígitos altos, encolheram 8,5%.
“É um canal subpenetrado, onde eles dizem que estão concentrando esforços”, diz um analista. “Como pode cair mais do que as vendas nas lojas físicas?”
Numa conference call sincera, o CEO Luiz Fogaça sinalizou que o quarto trimestre também vai ser difícil, com os preços das passagens ainda pressionados e o derramamento de óleo no Nordeste afetando a demanda bem no começo da alta temporada.
A expectativa é que o ‘take rate’ caia ainda mais: 1,20 ponto percentual frente ao mesmo período de 2018.
A CVC também não sabe exatamente qual o impacto exato das provisões que terá de fazer por conta da Avianca. A expectativa é que haja mais uma provisão de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões referentes a reembolsos, embarques em outras companhias aéreas e processos movidos pelos clientes por conta dos voos da companhia aérea já vendidos e que não estavam mais disponíveis.
A rentabilidade também deve continuar a sofrer uma queda estrutural, já que a CVC conseguia descontos polpudos com a Avianca — que operava com a corda no pescoço — ao comprar volume de passagens para o ano.