A Argentina está vivendo um boom na aviação: nunca se voou tanto e com tarifas tão baratas.
A demanda é estimulada pela entrada das companhias low-cost Norwegian, JetSmart e Flybondi – atraídas pela onda liberalizante do Governo Macri.
A novata do grupo, a chilena JetSmart, começou a voar em abril com uma promoção de voos a partir de 1 peso, com taxa de embarque incluída! A promoção durou três dias, limitada a 5 mil bilhetes.
O contraste entre os mercados da Argentina e Brasil chega a ser chocante. Hoje, a Argentina tem seis companhias operando voos domésticos. Juntas, transportaram 14 milhões de passageiros no ano passado. No Brasil, eram quatro companhias, transportando 93,6 milhões de passageiros.
Mesmo com um cenário macro desafiador – inflação nas alturas e peso enfraquecido – o número de passageiros domésticos e internacionais cresceu 33% desde que Macri assumiu a Casa Rosada em 2016.
Macri acabou com controle de preços e de rotas. A cobrança de bagagens despachadas é liberada. As empresas têm liberdade inclusive para cobrar pela mala de mão tipo carry-on (gratuita no Brasil) e pela marcação de assento (gratuita no Brasil com 48 horas de antecedência).
“La revolución de los aviones” – nome oficial do programa do governo – inclui ainda investimentos na modernização de aeroportos e a redução de subsídios para a Aerolíneas, a companhia estatizada por Cristina Kirchner e que ainda consome cerca de US$ 100 milhões em subsídios por ano. (Até 2015, o prejuízo anual coberto pelo contribuinte era de quase US$ 700 milhões.)
A Argentina consegue oferecer algo que é o calcanhar de Aquiles dos planos de atração das low cost para o Brasil: um aeroporto low cost.
Macri entregou o El Palomar, uma antiga base aérea a 18 km de Buenos Aires – com custos operacionais 50% inferiores aos do Aeroparque.
‘La revolución’ foi responsável pela abertura de 90 novas rotas no país nos últimos três anos. Mais da metade delas sequer passa por Buenos Aires, ampliando a conexão direta entre cidades do interior.
Ligações como Cordoba-Corrientes e Mendoza-Iguaçu, por exemplo, eram inexploradas até a chegada da Flybondi, low cost argentina que começou a voar em janeiro do ano passado e hoje conta com 18 rotas domésticas e três internacionais.
Apesar da enorme demanda reprimida, o Mar Del Plata não está para peixe.
A Avian, empresa de German Efromovich que operava apenas duas rotas no país, exibiu uma taxa de 40% em maio e parou de voar semana passada. Mesmo com promoções agressivas, a ocupação da JetSmart foi de apenas 59% no mês passado.
Já a Norwegian, que passou os últimos cinco anos em forte expansão global sem entregar resultado, anunciou recentemente que está em correção de rota. E a Argentina pode ser a primeira vítima.
“Se o mercado não responder como planejado até agosto, estamos preparados para sair de lá. Seremos completamente cínicos,” declarou o CFO Geir Karlsen na divulgação dos resultados do primeiro trimestre.
Apesar da bonança, a Argentina chegou tarde na onda das low cost. No México, na Colômbia e no Chile, esse movimento começou há mais de dez anos.
O Brasil – com a eterna relutância em liberar a cobrança de bagagens e outros serviços que fazem parte do modelo de negócios das low costs – o boom ainda está para acontecer. Para a alegria das incumbentes Gol, LATAM e Azul.