Desde que perdeu a eleição para presidente dos Estados Unidos, Al Gore se reinventou como um dos ambientalistas mais conhecidos do mundo — investindo recursos através de sua Generation Investment Management, uma gestora com US$ 44 bilhões em ativos sob gestão.
Dois anos atrás, a Generation criou a Just Climate para dobrar a aposta nesse mercado — investindo em ativos ilíquidos, que muitas vezes têm um impacto maior que o de empresas listadas.
A nova gestora começou melhor que o esperado: em junho, captou US$ 1,5 bilhão para seu primeiro fundo, 50% mais que o target inicial. O Climate Asset Fund I investe em soluções que ajudem a reduzir as emissões de carbono no setor industrial.
Agora, a Just Climate está lançando uma nova estratégia para atacar outro grande vilão das emissões: a agricultura e o uso das terras.
Essa nova estratégia será liderada por Eduardo Mufarej — o ex-sócio da Tarpon e fundador da Good Karma Partners. Em meados do ano que vem, Mufarej se tornará o co-chief investment officer da Just Climate, que acaba de abrir um escritório no Brasil, e o fundo para a nova estratégia já deve estar captado.
Depois que isso acontecer, Mufarej reduzirá seu envolvimento com a Good Karma, cuja fase de investimento também termina em meados do ano que vem. Após esse período, ele vai apenas gerir o portfólio da GK, mas não levantará mais recursos para a gestora.
Mufarej disse ao Brazil Journal que está interessado em segmentos como a agricultura de precisão; a agricultura regenerativa; a captura de carbono; e a transição de químicos para biodefensivos.
A Just Climate não divulga o target para esse novo fundo — que por enquanto prefere chamar apenas de uma estratégia.
Mas Clara Barby, a senior partner da gestora, disse que um fator importante para essa estratégia é conseguir atrair fundos de pensão e fundos soberanos. “Foi isso que fizemos para o primeiro fundo. Se também conseguirmos trazer esses players para essa nova estratégia, certamente vamos conseguir escalar muito mais rápido,” disse ela.
A experiência de Mufarej pode ajudar. Quando era sócio da Tarpon, foi ele quem liderou os esforços de captação da gestora brasileira com investidores internacionais, atraindo grandes endowments americanos e fundos soberanos.
Apesar do escritório no Brasil — e de Mufarej ter um viés natural para investir no País — a nova estratégia da Just Climate terá um mandato global.
Segundo Clara, a Just Climate decidiu começar pelo setor industrial em seu primeiro fundo porque queria focar em mercados que ainda não receberam tanto capital.
“O inflow de capital para endereçar a mudança climática na maioria das vezes tem ido para ativos renováveis e veículos elétricos. Você não escuta com frequência sobre investimentos em aço verde, cimento verde, armazenamento de energia de longa duração, ou combustível sustentável de aviação,” disse a executiva.
Segundo ela, outro setor que também não recebe tanta atenção (e capital) é o de soluções para reduzir as emissões na agricultura — o que motivou a criação da segunda estratégia.
“Esses setores, que chamamos de Natural Climate Solutions, representam um quarto das emissões globais,” disse ela. “E nesses mercados o Brasil tem uma vantagem competitiva. Até agora, não teve capital suficiente sendo investido, mas o Brasil está posicionado de forma única nesses mercados.”
As conversas entre Mufarej e a Just Climate começaram há cerca de um ano. Durante uma conferência em Stanford, Mufarej conheceu Colin Le Duc, um dos cofundadores da Generation. Os dois começaram a discutir as oportunidades do Brasil na mudança climática.
A primeira ideia de Mufarej foi fazer uma sociedade entre a Just Climate e a Good Karma — mas o que a Generation realmente queria era trazer o brasileiro para trabalhar com ela.
“Eu falei que assim não funcionava, porque tenho um time, um fundo, um negócio que eu toco. Mas acho que conseguimos encontrar um meio do caminho que funcionou para os dois.”