A Monkey Exchange – que opera um marketplace de antecipação de recebíveis de fornecedores de grandes empresas – acaba de levantar uma rodada de R$ 67 milhões liderada pelo L4, o fundo de corporate venture capital da B3.
A Série B também teve a participação do DEG, o banco alemão de desenvolvimento, além da Quona e do Kinea, que já faziam parte do cap table da startup.
O CEO Gustavo Muller disse ao Brazil Journal que a Monkey já está no breakeven há dois anos, mas fez a rodada para financiar seu crescimento num momento que é um divisor de águas para o mercado da startup.
Com a entrada em vigor da duplicata escritural, que deve ocorrer no final deste ano ou início de 2025, o mercado de antecipação de duplicatas deve quintuplicar de tamanho – o que vai expandir muito o mercado potencial da Monkey.
Muller disse que este mercado – que hoje movimenta cerca de R$ 200 bilhões por ano – pode chegar a R$ 1 trilhão com a duplicata escritural.
Basicamente, a duplicata escritural vai substituir a duplicata mercantil, que precisa ser registrada no cartório para ser usada como instrumento de garantia de crédito.
“Com a nova regulamentação, esse processo vai ser digitalizado. Qualquer empresa que emitiu uma nota fiscal vai poder transformá-la num ativo financeiro: bastará escriturá-la e depois usá-la como garantia de crédito por meio das registradoras,” disse Bruno Oliveira, o COO e cofundador da Monkey
Isso vai garantir que a nota fiscal é válida e não foi antecipada por nenhum outro financiador antes.
Hoje, o marketplace da Monkey já faz isso – mas de forma limitada ao seu ecossistema de clientes.
“Como só antecipamos duplicatas de fornecedores dos nossos clientes, que são grandes empresas, conseguimos ter essa garantia da validade delas,” disse o COO. “Mas com a duplicata escritural isso vai ser ampliado para o mercado como um todo, criando uma oportunidade gigantesca.”
Um fornecedor do interior do Mato Grosso que não trabalha com nenhum cliente da Monkey, por exemplo, poderá antecipar sua nota fiscal no marketplace da startup, tendo acesso a instituições financeiras que vão bidar pelo ativo.
Parte do interesse da L4 na Monkey tem a ver com essa mudança regulatória.
A B3 hoje é uma das três maiores escrituradoras e registradoras do mercado, ao lado da CERC e da Núclea.
“A duplicata escritural vai destravar um pool de capital enorme para as PMEs e você vai precisar de orquestradores desse mercado. A Monkey está muito bem posicionada para ocupar esse papel,” disse Tiago Wigman, o gestor do L4.
O marketplace da Monkey vai ser agnóstico em termos de registradora, “mas naturalmente devemos fazer uma parceria grande com a B3,” disse Felipe Adorno, o CTO e sócio da Monkey.
Desde que foi fundada, em 2016, a Monkey já movimentou mais de R$ 100 bilhões em seu marketplace.
Ela opera hoje com mais de 100 grandes empresas que se plugam à plataforma por meio de seus sistemas de ERP, permitindo que a Monkey cadastre os fornecedores e os débitos que as empresas têm com eles.
Depois disso, a startup oferece a antecipação desses débitos para mais de 80 instituições financeiras, que competem pelos ativos numa espécie de leilão, jogando a taxa de desconto para baixo.
A expectativa da Monkey é movimentar R$ 60 bilhões este ano na plataforma. A receita da startup é uma pequena comissão (bem menor do que 1%) em cima do volume movimentado.
Este é o nono investimento do L4, que já desembolsou 30% de seus R$ 600 milhões em ativos sob gestão. O foco da gestora é buscar ativos que tenham algum tipo de sinergia com a operação da B3.