A Minerva Foods passou pela primeira vez na história a Marfrig em valor de mercado apesar de ter uma receita 5x menor que a concorrente e um EBITDA 4x menor.

A ação da Minerva sobe 3,5% agora à tarde, elevando o valor de mercado da companhia para R$ 9,7 bilhões. 

Já a Marfrig cai 0,6% e vale R$ 9,4 bilhões na Bolsa. 

Os preços de tela refletem cenários opostos para as duas companhias: enquanto as margens da Minerva devem subir nos próximos meses, as da Marfrig devem começar a comprimir. 

“Na América do Sul [que representa 100% do negócio da Minerva], o ciclo é muito positivo, com uma oferta muito grande de gado, o que deve fazer o preço cair,” disse um executivo do setor. “Já nos EUA [que é 80% do EBITDA da Marfrig], o cenário é o contrário: tem pouca oferta, o que deve fazer o preço subir.”

Para se ter uma ideia: o US Department of Agriculture estima que a produção de carne cairá 10% ano que vem pela menor disponibilidade de gado.

Como o gado é um dos principais custos dos frigoríficos, esse cenário impacta diretamente na margem das companhias gerando um ganho para a Minerva e uma perda para a Marfrig em virtude de suas respectivas exposições geográficas. 

Num relatório recente, o BTG notou que a Marfrig se beneficiou nos últimos trimestres de um momento único do setor, e aproveitou a oportunidade para desalavancar, distribuir dividendos e crescer “tudo ao mesmo tempo.”

“Mas ela também seguiu o histórico do setor de acelerar a alocação de capital bem quando as margens estão no pico,” escreveu o analista. 

“Agora que o ciclo nos EUA está mudando, a menos que ela consiga se desalavancar mais rápido do que imaginamos, tememos que a geração de valor para os acionistas seja colocada em risco.”

O BTG estima que a compressão das margens da Marfrig possa levar sua alavancagem para perto de 4x EBITDA. Hoje, ela está em 2,3x, considerando o EBITDA dos últimos 12 meses.

A Marfrig enfrenta ainda outro desafio brutal: extrair sinergias da BRF fazendo seu investimento na gigante de alimentos se pagar.

Desde que a Marfrig comprou 33% do capital da dona da Sadia e Perdigão, a ação da empresa caiu cerca de 10%.