“É bizarro, mas o único governante defensor do livre mercado em todo o mundo está na Argentina,” disse Stanley Druckenmiller, um dos investidores mais admirados da história e ex-gestor do principal fundo de George Soros.
Em uma entrevista à CNBC, Druckenmiller contou que vem investindo em papéis de empresas argentinas – e até agora não tem do que se queixar.
O investidor disse que não esteve em Davos, em janeiro, mas depois de assistir ao discurso pró-mercado de Javier Milei decidiu imediatamente aplicar na Argentina. Perguntou à Perplexity, uma ferramenta de IA, quais eram os cinco ADRs mais líquidas do país e colou dinheiro neles.
“Segui a velha regra de Soros de ‘investir, e depois investigar.’ Comprei, fiz algum trabalho de pesquisa, e aumentei minhas posições,” Druckenmiller disse à CNBC.
“Por enquanto tem sido ótimo, mas vamos ver,” afirmou. “Não sei quanto tempo a população dará para esse rapaz, mas por enquanto a popularidade dele tem se mantido estável.”
O fundador do Duquesne Family Office não deu detalhes sobre suas posições, mas alguns dos papéis mais negociados da Argentina – sejam ações ou ADRs – são YPF, Grupo Supervielle, Lithium Americas, Arcos Dorados e Mercado Libre, além dos bancos BBVA Argentina, Grupo Financiero Galicia e Macro. Essas três instituições financeiras lideram a alta no ano, com valorização superior a 100%.
Nos últimos seis meses, o ETF Global X MSCI Argentina acumula alta de mais de 50%.
Druckenmiller se disse surpreso pelo fato de a popularidade de Milei não ter caído mesmo em meio à recessão econômica e à redução, em termos reais, dos benefícios previdenciários.
O superávit fiscal argentino se deve, em boa medida, à decisão do governo de não repor as perdas inflacionárias das aposentadorias – o que representou uma redução da ordem de 35% com essas despesas.
“Javier Milei será um experimento interessante,” comentou o gestor. “Um líder muito inteligente, treinado na Escola Austríaca de economia. Além de conhecer economia, é um showman.”
Milei ganhou também o benefício da dúvida de Ian Bremmer, o CEO da consultoria Eurasia.
Em um comentário postado nas redes sociais, o consultor reconheceu que errou ao antever um colapso econômico da Argentina com a eleição de Milei.
Bremmer disse que o país voltou a ter superávit fiscal depois de uma década, e a inflação está em queda.
“Estou feliz por ter errado,” disse.
De acordo com o analista, a equipe econômica de Milei foi bem recebida pelo FMI e, nas reuniões em Washington, o presidente argentino mostrou disposição em ouvir as recomendações.
Segundo Bremmer, a Argentina continuará enfrentando o aumento da pobreza e uma queda no padrão de vida. A questão, portanto, será observar até que ponto a aprovação do governo permanecerá em níveis relativamente elevados para o histórico recente do país.
“Mas esse rapaz merece respeito pelo que ele alcançou até agora,” concluiu Bremmer.
Em 2023, a inflação argentina foi de 233%, o índice mais elevado desde a hiperinflação de 1990. Os reajustes estão perdendo força. O número de abril será divulgado na próxima semana, e existe a expectativa de que a variação mensal caia abaixo de dois dígitos.