O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, confirmou que seu ministro da Economia será Luis Caputo, conhecido na City portenha como o “Messi das finanças” e cuja tarefa hercúlea será restabelecer a sanidade na economia e reconectar o país aos mercados internacionais.
A escolha indica que Milei se distanciou – ao menos por ora – dos economistas acadêmicos libertários e dos defensores da dolarização, optando por um economista ortodoxo e pragmático, com larga experiência de mercado e gestão pública.
Com um passado de estrategista do JP Morgan e presidente do Deutsche Bank na Argentina, Caputo foi secretário das Finanças e depois ministro das Finanças no governo de Mauricio Macri (2015-2019).
Na época, liderou a renegociação da dívida que estava com os holdouts, os investidores internacionais e ‘fundos abutre’ que não tinham aceitado a troca oferecida no governo de Cristina Kirchner.
Em 2018, o economista ocupou brevemente a presidência do Banco Central da Argentina, mas renunciou em meio a desentendimentos com o FMI a respeito de um programa de empréstimo do organismo multilateral.
Com a negociação, a Argentina voltou aos mercados externos e conseguiu emitir um título de 100 anos – que acabaria sendo renegociado no default de Alberto Fernández em 2020.
No recente giro de Milei nos EUA, Caputo foi um dos integrantes da comitiva. O itinerário da viagem incluiu uma visita ao Tesouro americano e ao Fundo Monetário Internacional, que vem pacientemente rolando a dívida de US$ 44 bilhões enquanto aguarda as definições políticas no país.
Milei disse que era necessário ter “alguém com uma mão financeira habilidosa, e não há na Argentina alguém mais hábil em finanças do que Luis Caputo.”
A escolha indica que a prioridade de Milei no início do governo será enfrentar o tango da dívida argentina, não apenas com o FMI.
Com um déficit público de 15% do PIB e sem crédito na praça, o governo vem se financiando em boa parte com emissões de títulos pelo BC, de maneira similar ao que existia no Brasil nos anos 1980, nos tempos da hiperinflação.
Como já disse Milei, o primeiro ponto a solucionar são as Leliqs, os títulos emitidos pelo BC que carregam o objetivo duplo de bancar o déficit do governo e impedir que a inflação fuja completamente do controle.
Segundo Milei, é “fundamental resolver esse problema com muita expertise, se não terminamos na hiperinflação”.
Pelos relatos da imprensa argentina, Caputo ofereceu uma solução de mercado para desatar esse nó, com a possível substituição desses papéis por títulos do Tesouro – mas ainda não há detalhes de como isso se daria.
Também segue indefinido o nome do novo presidente do BC, uma posição-chave na execução da engenharia financeira que vem sendo elaborada por Caputo.
Ao favorecer a solução Caputo, Milei escanteou os economistas favoráveis à dolarização, entre eles Emilio Ocampo.
Ocampo, um teórico da dolarização, era o principal cotado para ser o presidente do BC argentino. Caberia a ele a missão de “fechar o Banco Central,” como prometeu Milei.
Luis Caputo é primo de Nicolás Caputo, um empresário da construção civil que é um “irmão de alma de Macri,” segundo a imprensa portenha.
O apoio de Macri está se tornando a cada dia mais essencial para a governabilidade de Milei.
O Libertad Avanza de Milei elegeu apenas 39 dos 257 deputados. O Juntos por el Cambio, de Macri e da candidata derrotada Patricia Bullrich, tem 94 deputados. (Bullrich já foi nomeada ministra da Segurança, cargo que ocupou no governo Macri.)
No Senado, o Libertad Avanza terá 7 das 72 cadeiras. O Juntos por el Cambio, 24.