A Metalfrio — a líder global na fabricação de refrigeradores comerciais — disse que a gestora WNT comprou 80% de sua dívida bancária e está propondo a conversão de 100% dessa dívida em ações.

A operação vai permitir que a companhia ajuste sua estrutura de capital e tenha acesso a recursos para voltar a crescer — o que pode envolver a aquisição de players menores.

A Metalfrio — que faz desde as áreas refrigeradas onde você passa frio nos supermercados até cervejeiras para casa e freezers horizontais para sorveterias — é a líder global neste segmento com um share de 15%.  Sua lista de clientes vai da Anheuser-Busch Inbev à Coca-Cola, da Carlsberg à Heineken, da Unilever à Nestlé.

A Metalfrio faturou perto de R$ 2 bilhões ano passado, uma queda de 2,7% ano contra ano, e fez um EBITDA de R$ 236 milhões, o maior de sua história. 

Nos últimos anos, a Metalfrio já vinha negociando com seus credores um reperfilamento. No final do ano passado, a companhia tinha uma dívida bancária da ordem de R$ 730 milhões, toda com vencimento no curto prazo (os próximos doze meses). 

Além da dívida financeira, a Metalfrio tem mais cerca de R$ 150 milhões em operações de desconto de recebíveis, que não vão entrar na conversão.

A empresa — que tem fábricas no Brasil, Turquia e México — faz 60% de seu top line lá fora, e com isso também tem dívidas em dólar e euro. No final do ano passado, essas dívidas somavam US$ 107 milhões e 319 milhões. No consolidado, a alavancagem da companhia estava em 5,4x o EBITDA. 

A proposta da WNT — uma gestora que tem o Banco Master como grande cotista — ainda precisará ser apreciada pelo conselho da Metalfrio. Caso o board aceite a proposta, ele vai discutir com os credores a que preço será feita a conversão e, depois, chamar uma assembleia de acionistas para aprovar a proposta. 

Uma fonte a par do assunto disse ao Brazil Journal que os principais acionistas da companhia já sinalizaram interesse em aprovar a transação. 

A Metalfrio é controlada pelo empresário Marcelo Lima, com 52,4% do capital, e Erwin Herman Russel, que foi sócio de Lima na gestora Artesia e tem outros 41,5%. 

Marcelo também era um grande acionista da antiga Restoque, onde a WNT fez uma operação semelhante no ano passado, comprando dívidas no secundário e convertendo em equity. A empresa — dona das marcas Le Lis Blanc, John John e Dudalina — agora se chama Veste.

Outros 2% estão nas mãos da diretoria e do conselho de administração e o free float é de apenas 3,8% do capital, com uma liquidez praticamente nula. 

Fundada nos anos 60 por Joaquim Caio, a Metalfrio já teve diversos donos. Em 1989 foi vendida para a família Giaffone, da Continental. Alguns anos depois passou a integrar a multinacional alemã BSH, que depois vendeu o negócio para Lima.

A companhia fez seu IPO em 2007, levantando cerca de R$ 450 milhões para acelerar sua expansão. De lá para cá, no entanto, os controladores já recompraram quase todas as ações. 

Na carta enviado ao board da Metalfrio, a WNT disse que a companhia “vem apresentando resultados operacionais positivos e que o negócio tem potencial de geração de resultados e de caixa crescentes nos próximos anos, desde que reequilibrada a sua estrutura de capital.”

A gestora disse ainda que o custo da dívida bancária estava consumindo boa parte do resultado operacional da empresa, “limitando sua capacidade de investimento e crescimento e, principalmente, limitando de forma relevante a capacidade de pagamento do principal de sua dívida bancária.”

Além da fabricação de refrigeradores, a companhia tem uma linha importante de receitas com a prestação de serviços de manutenção e aluguel dos refrigeradores. Globalmente, essa vertical responde por 18% do faturamento; no Brasil, por 28%.

O Banco Master assessorou a operação.