A ação do Mercado Livre despenca mais de 14% hoje na Nasdaq depois que a companhia reportou seus resultados do terceiro trimestre.

A receita subiu forte, cerca de 35%, e veio em linha com as expectativas do sellside.

O problema foi algumas linhas abaixo na DRE. O EBIT do Mercado Livre caiu 19% ano contra ano, para US$ 557 milhões, e veio 30% abaixo das projeções do consenso Bloomberg. O lucro líquido também decepcionou, ficando 23% menor que o consenso, em US$ 397 milhões. 

O ‘miss’ teve a ver basicamente com os maiores investimentos que o Mercado Livre fez na área de logística, com a construção de seis novos centros de distribuição, e com o ramp up acelerado da oferta de cartão de crédito. 

O segmento de cartão de crédito cresceu 172% ano contra ano e 28% na comparação sequencial, com a penetração subindo 1,5 ponto percentual em relação ao segundo tri. 

“O cartão de crédito teve um EBIT negativo de US$ 76 milhões por conta das provisões iniciais terem superado as receitas, além de uma queda no yield de crédito (de -4,6 p.p ano contra ano) com a companhia perseguindo clientes maiores,” escreveu o Itaú. 

Além do resultado fraco de cartões de crédito e dos investimentos na logística, o Mercado Livre teve um one-off no trimestre que prejudicou ainda mais o EBIT.

A companhia teve perdas de US$ 42 milhões relacionadas a descontos dados a clientes que anteciparam o pagamento de empréstimos. Excluindo esse one-off, o EBIT ainda teria ficado 24% abaixo do consenso Bloomberg

O JP Morgan disse que apesar de ver um valor significativo na oferta de crédito por si só e nas externalidades do produto, e de ver a logística como uma vantagem chave do Mercado Livre, “acreditamos que a pressão nas margens não é um evento de um trimestre, mas sim um maior nível de investimentos que vai se pagar no longo prazo.”

Para o banco, os resultados deste tri e dos próximos devem levar a revisões para baixo das estimativas do consenso para 2025 e 2026, pressionando a ação. 

Apesar da pressão nas margens, o Santander disse que o core business do Mercado Livre continua forte com a aceleração das métricas de uso e um crescimento saudável do GMV e TPV, “sugerindo que a pressão nas margens vem de investimentos ofensivos e não defensivos.”

“Ainda que a gente acredite que essa estratégia se prove vencedora no longo prazo, a rentabilidade deve levar mais do que alguns trimestres para se recuperar dado a ambição da companhia na expansão do crédito,” escreveu o banco.

“Nós somos compradores no caso de uma fraqueza mais prolongada da ação já que nenhum dos fatos revelados no terceiro trimestre indica uma mudança estrutural do negócio do Mercado Livre, ou em seu potencial de longo prazo.”