A ação do Mercado Livre está subindo mais de 7% hoje, atingindo um novo patamar histórico depois que a companhia reportou um primeiro tri que superou as expectativas do mercado em todas as linhas.
A receita veio 8% acima do consenso, o EBIT superou o sellside em 20%, enquanto o lucro líquido veio 15% acima das projeções dos analistas.
No final da tarde, o papel subia para US$ 2.430 na Nasdaq, superando com folga o pico histórico de US$ 2.330, atingido em 30 de abril.
Agora o MELI vale US$ 123 bilhões na Bolsa – duas vezes o Nubank, para efeito de comparação.
O principal responsável pelo ‘beat’ foi a Argentina, que teve um crescimento muito forte nas receitas e na margem, mais do que compensando o aumento das despesas no Brasil e no México, com os investimentos pesados em logística e a aceleração da vertical de crédito.
A receita total do MELI cresceu 37% ano contra ano, para US$ 5,9 bilhões.
Na Argentina, o crescimento foi de 125% em dólar (superando com folga as estimativas dos analistas).
Já a receita no Brasil cresceu 20% (também em dólar) e a do México, 26% — ambas em linha com o consenso.
O resultado da Argentina mostra uma virada de chave brusca na operação do MELI no país, em grande parte um reflexo do comeback macroeconômico trazido pelo Governo Milei.
Há um ano, no primeiro tri de 2024, a operação da Argentina havia sofrido uma queda brusca na demanda, com a desvalorização do peso. “Isso levou a uma desalavancagem operacional muito grande, com uma queda forte na margem,” disse um analista do buyside comprado no papel. “Mas passado um ano, não só essa margem voltou para onde estava, como a situação do mercado melhorou muito.”
O volume de itens vendidos na Argentina cresceu 50% no primeiro tri, enquanto a margem de contribuição quase dobrou, com o país voltando a ser a segunda maior geografia do Mercado Livre, atrás apenas do Brasil.
Além da forte melhora das vendas no ecommerce, o MELI voltou a acelerar a originação de crédito no país, o que não acontecia desde 2022. Na Argentina, o MELI oferece apenas crédito pessoal e para seus sellers, e a estimativa é que esta carteira seja de mais de US$ 1 bilhão.
Na call com o mercado, o CFO Martin de los Santos disse que a carteira de crédito na Argentina quadruplicou de tamanho no último ano.
A retomada do crédito na Argentina é positiva para a margem porque a companhia opera lá com um ‘net interest margin after losses’ (NIMAL) de cerca de 50%, em comparação aos 22,7% da carteira consolidada.
O CFO disse que existem diferentes efeitos que explicam o resultado forte na Argentina.
“Por um lado, estamos comparando nossos números com uma base que foi um pouco fraca, mas ao mesmo tempo e mais importante estamos ganhando market share. E isso não é apenas pelo que aconteceu no último ano, mas pelo que temos executado nos últimos meses para ajudar o negócio a se recuperar. Melhorando a logística, tornando nossos preços mais acessíveis, melhorando a seleção, e por aí vai,” disse ele.
Olhando para frente, Martin disse que o MELI vai continuar “melhorando nossa proposta de valor nos próximos trimestres. A base comparativa vai se tornar mais difícil, mas estamos convencidos de que temos o necessário para continuar tendo uma operação muito forte no país.”
O executivo disse ainda que segue otimista com a Argentina não apenas pelas melhoras macro, mas pela força que a marca Mercado Livre tem lá e por todas as medidas que a companhia tem adotado.
A companhia confirmou ainda que planeja começar a oferecer seu cartão de crédito na Argentina já no segundo semestre — algo que vinha sendo ventilado pelo mercado e deve contribuir para o crescimento no país.
O bom momento da Argentina veio em meio a resultados um pouco mais desafiadores no Brasil e no México.
Ainda que os dois países tenham apresentado um crescimento robusto, as margens têm retraído há alguns trimestres por conta dos investimentos pesados que o Mercado Livre tem feito na logística, com a construção de novos centros de distribuição, e pela expansão do cartão de crédito.
No cartão de crédito, a contabilidade exige que as provisões sejam feitas na cabeça, assim que o crédito é originado. Como há um delay para que a companhia comece a gerar receita desse crédito, o crescimento forte nessa frente gera um impacto negativo na rentabilidade no curto prazo.
A margem de contribuição — que considera apenas os custos operacionais variáveis — foi de 47% na Argentina no primeiro tri vs. 36% um ano atrás. Já no Brasil, ela caiu de 22% para 18% e no México de 23% para 18%.
Apesar dessa pressão na margem do Brasil e México, a margem EBIT consolidada da empresa veio em 12,9% no primeiro tri, 67 basis points acima do mesmo período do ano passado.
“Em vez da contração de margem que alguns esperavam, o MELI reportou uma expansão na rentabilidade por conta da forte recuperação da Argentina, que mais do compensou as margens menores do Brasil e México,” escreveu o Santander. “A alavancagem operacional do rápido crescimento das vendas também diluiu as maiores despesas com marketing e vendas.”
A carteira de crédito consolidada do Mercado Livre cresceu 75% para US$ 7,8 bilhões, com o cartão de crédito passando a responder por 42% do total, ante 38% do tri passado.
O NPL 15 a 90 dias ficou em 8,2%, estável, apesar do crescimento acelerado.