Sylvio de Barros — um pioneiro da internet no Brasil que fundou a WebMotors e depois repetiu o mesmo playbook com a iCarros — morreu ontem depois de cair numa trilha em Joanópolis, em São Paulo, onde passava férias com a família.
Ele tinha 57 anos e deixa a esposa e dois filhos.
Sylvio fundou a Webmotors em 1995 depois de fazer carreira na General Motors. Na época, ele trabalhava criando os catálogos de vendas da montadora, e viu a oportunidade de digitalizar os classificados automotivos que eram publicados diariamente nos jornais.
A WebMotors foi o primeiro site do segmento no Brasil e nasceu nos primórdios da internet, quando havia menos de 800 mil internautas no País.
Foi difícil, mas deu muito certo.
Em 1999, Sylvio atraiu a GP Investimentos e o JP Morgan como sócios do site, e anos depois vendeu o negócio para o ABN Amro, depois comprado pelo Santander.
Com a venda, Sylvio ficou alguns anos como executivo da WebMotors, mas logo voltou a empreender, fundando o site Minha Vida, que se consolidou como uma referência no segmento de saúde e alimentação.
Assim que seu non-compete venceu, em 2007, ele voltou ao setor: fundou a iCarros em parceria com o Itaú, e depois vendeu o negócio para o banco.
“Ele é o único cara que eu conheço que conseguiu criar o mesmo negócio duas vezes e vender para empresas diferentes,” Julio Capua, o ex-sócio da XP e amigo de longa data de Sylvio, disse ao Brazil Journal. “Ele era um sonhador, um cara que não parava e que já estava montando outros negócios.”
Julio conheceu Sylvio por meio das corridas, uma das grandes paixões da vida do empreendedor.
Em 2002, os dois se encontraram durante o Rally dos Sertões — que, curiosamente, seria comprado pelos dois e um grupo de investidores 16 anos depois. Enquanto Julio participava da competição pela primeira vez, Sylvio já havia disputado o Sertões outras quatro.
O empresário levou a paixão a sério. Chegou a participar 11 vezes do rali (8 de moto), e também competiu no Dakar e no South American Rally Race, onde estreou no ano passado.
No automobilismo, competiu diversas vezes na Porsche Cup e foi campeão duas vezes (em 2011 e 2012).
Carlos Ambrósio, amigo de Sylvio desde a adolescência, disse que o empreendedor “era uma pessoa muito positiva, que sempre animava muito o lugar onde ele estava.”
“Ele sempre unia muito as pessoas e transmitia uma energia positiva para todo mundo ao seu redor. Era uma pessoa sempre aberta a explorar coisas novas e a ajudar todo mundo a se desenvolver.”
Segundo Carlos, a paixão de Sylvio pelo esporte vinha desde a adolescência — e sempre com muita intensidade.
Julio disse que Sylvio foi um exemplo de como viver a vida com tudo que ela pode dar — e com equilíbrio. “Ele tinha uma família incrível, deu super certo profissionalmente e também nunca deixou de aproveitar a vida. Era impressionante: eu perguntava ‘onde está o Sylvio? Tá surfando nas Maldivas com os amigos. E agora? Agora ele está no Alaska esquiando. E agora? Agora tá fazendo o quinto rali do ano’.”
Para uma pessoa que praticava tantos esportes radicais, chamou a atenção dos amigos a ironia na forma como ele morreu: caindo numa trilha, a pé.
Sylvio tinha frases clássicas que sempre repetia aos amigos. Antes de começar algum esporte ou aventura, costumava dizer: “Tem um risco enorme de a gente se divertir muito hoje. Isso é um perigo!”
Outra frase recorrente de Sylvio, que agora soa quase premonitória, era de que todo dia ele batia um novo recorde de dias na Terra — e que por isso era preciso celebrar muito.
O empreendedorismo brasileiro perdeu uma referência. Os amigos, um modelo de como aproveitar a vida.