O Banco Brasil Plural começou a cobrir três empresas globais de bebidas — a Coca-Cola e as cervejarias Anheuser-Busch InBev (ABI) e SABMiller — com algumas teses interessantes.
De acordo com o banco, a tão antecipada fusão entre a ABI e a SABMiller só vai acontecer se os acionistas da SABMiller concordarem com um preço substancialmente inferior às especulações do mercado, que têm sido na faixa de 16-17 vezes a geração de caixa da empresa (EBITDA).
Para Carlos Laboy, o analista à frente do relatório, uma fusão num múltiplo de 13x EBITDA daria à Ambev a chance de comprar as operações da SAB na América Latina a um preço que aumentaria o lucro por ação da cervejaria brasileira. Laboy vê um potencial de ganho de 20% para as ações da Ambev, mesmo sem a operação da SAB.
“Mas a operação que realmente faz sentido é a Coca-Cola,” diz Laboy. “Uma fusão ‘entre iguais’ com a Coca-Cola seria muito mais benéfica à ABI do que uma fusão com a SABMiller.”
A Coca-Cola Company e a ABI valem, cada uma, exatos 181 bilhões de dólares.
Para Laboy, é a SABMiller, e não a ABI, quem deveria urgentemente se empenhar pela fusão entre as duas neste momento.
“Se a SAB não aceitar uma fusão agora e a ABI adquirir a Coca-Cola, a ABI terá os direitos da marca Coca-Cola em todos os mercados onde a SAB é engarrafadora da Coca, e a ABI terá direito de veto sobre qualquer aquisição ou fusão que a SAB quiser fazer,” diz o analista.
Laboy lembra que a maior acionista da SABMiller, a Altria, depende cada vez mais da SAB para pagar dividendos. Qualquer diminuição deste fluxo de dividendos por um erro de estratégia criaria um grande problema para a Altria, o que, na opinião de Laboy, faria a Altria aceitar uma fusão agora num múltiplo menor.
“O melhor resultado para a Altria seria uma fusão, agora, entre a SAB e a ABI, num múltiplo menor, para que ambas, juntas, possam comprar a Coca-Cola depois,” diz Laboy.
Ele também diz que a ABI deveria ter urgência em buscar uma fusão com a Coca-Cola, por dois motivos.
Primeiro, a Coca-Cola tem problemas operacionais na América do Norte, e está começando a resolvê-los. Recentemente, a Coca aumentou sua participação na Monster Beverage, a fabricante de energéticos, e passará a distribuir seus produtos nos EUA.
Isso vai causar uma queda substancial na geração de caixa tanto dos distribuidores independentes da ABI que atualmente vendem os produtos Monster quanto dos distribuidores que pertencem à ABI. O cálculo foi feito pela Beer Marketer’s Insights, um site que cobre o setor. O site estima que alguns distribuidores independentes perderão entre um terço e metade de sua geração de caixa.
Além disso, a Coca-Cola recentemente assinou um acordo com a família Reyes, o maior distribuidor da MillerCoors nos EUA, para que esta distribua também produtos Coca-Cola. A Reyes é uma distribuidora gigantesca, cobrindo um território hoje ocupado por mais de 50 distribuidores da ABI, diz Laboy. “O mercado das grandes marcas — tanto de cerveja quanto de refrigerantes — está declinando nos EUA e deve continuar a declinar nos próximos anos.. Se a Coca-Cola e a MillerCoors conseguirem oferecer um serviço melhor na distribuição e conquistarem mais espaço nas prateleiras, isso pode se tornar um problema para a ABI.”
Laboy cobre o setor de bebidas há 26 anos, como analista e banqueiro, e começou a cobrir a antiga Companhia Cervejaria Brahma em 1994.