O Mattos Filho está trazendo uma nova sócia para sua área de reestruturação, reforçando uma prática que tem ganhado cada vez mais protagonismo dentro do escritório num Brasil de Selic a 15%. 

A nova sócia, Victoria Villela, trabalhou os últimos cinco anos no Felsberg Advogados, depois de passagens pelo Bermudes e Pinheiro Neto. 

Victoria será a quinta sócia na prática de reestruturação, que até recentemente era tocada por uma equipe multidisciplinar de advogados. Dois anos atrás, o escritório transformou a prática numa área independente, coordenada por Marcelo Ricupero. 

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O Mattos Filho trabalha majoritariamente para credores e investidores — em vez das empresas devedoras. O escritório assessorou, por exemplo, os credores da Azul no processo de Chapter 11 da companhia aérea. 

Ricupero disse ao Brazil Journal que a área de reestruturação tem sido um foco importante do escritório e que o perfil de Victoria “se encaixa como uma luva.

“Ela tem um perfil empreendedor, de ficar próxima dos clientes. Ela também traz skills complementares aos nossos porque ela tem um conhecimento de estar do lado do devedor. Não que a gente vá fazer isso, mas ter este skill é positivo,” disse ele. 

Ricupero disse ainda que o escritório tem um modelo de remuneração que favorece a entrada ‘lateral’ de novos sócios, diferente de outras firmas.

No Mattos Filho, os sócios são divididos em níveis, e a remuneração é um percentual do lucro do escritório — que varia de acordo com o nível em que o sócio está. 

O Mattos Filho hoje tem 45 áreas diferentes, e a de reestruturação respondeu por menos de 10% do faturamento de R$ 1,7 bilhão no ano passado. 

Mas a prática vem crescendo acima do restante. Enquanto o Mattos Filho cresceu seu top line em 14% em 2024, a área de reestruturação cresceu mais de 30%. 

No Felsberg, Victoria assessorou transações importantes.

Ela atuou, por exemplo, na recuperação judicial da Rodovias do Tietê, que envolveu uma dívida de quase R$ 2 bilhões e mais de 18 mil debenturistas. Assessorando os credores, ela ajudou na negociação com a companhia que levou à conversão de 100% das debêntures em ações da empresa.

Ela também representou 5 mil debenturistas na RJ da Americanas, atuando para os credores de cinco das seis emissões da companhia. Também assessorou os investidores de um CRI da Casas Bahia durante a recuperação extrajudicial da varejista. 

O reforço do Mattos Filho vem num momento em que as reestruturações estão bombando, em grande parte graças aos juros na estratosfera e a um cenário de restrição de crédito. 

Só no ano passado o Brasil teve 2.273 pedidos de recuperação judicial, um aumento de 62% ano contra ano, segundo dados do Serasa Experian. Esse foi o maior número desde o início da série histórica, em 2006. Para este ano, a projeção é de um novo recorde. 

O mercado de reestruturação também tem mudado nos últimos anos, segundo Victoria. 

“Anos atrás, um plano de recuperação era só uma repactuação dos termos e condições, mas o mercado foi percebendo que isso não funciona. Isso é pegar o problema e jogar para a frente,” disse a advogada. 

“Cada vez mais as soluções estão ficando mais sofisticadas, demandando mais do que renegociações e envolvendo conversão de dívida, emissão de bonds atrelados a ativos… São soluções mais complexas, mas que são mais estruturais e definitivas.”