A Rede Mater Dei de Saúde levantou R$ 1,4 bilhão em seu IPO, depois de ser forçada a reduzir sua ambição de preço em meio a um mercado desafiador e um movimento hostil do maior player do setor em seu front doméstico. 

Agora à noite, a companhia vendeu 92,8 milhões de ações a R$ 17,44, 20% abaixo da faixa indicativa original.  

O desconto garantiu que boa parte da oferta ficasse na mão de gestores long-only como Squadra, Velt, Equitas e Truxt.  Mais uma vez, a presença de investidores internacionais foi pífia — o que diz mais sobre o Brasil do que sobre a empresa.

A demanda do varejo chegou a 18% da oferta, mas a companhia alocou apenas 10% para esses investidores.  O free float é de 23%.

Nas contas de alguns gestores, a Mater Dei saiu a um múltiplo de 16x EBITDA; a estimativa inclui pelo menos um M&A ainda no primeiro semestre deste ano que deve adicionar R$ 25 milhões ao EBITDA, que na ausência de aquisições é estimado em R$ 320 milhões este ano. A companhia vai estrear na Bolsa valendo R$ 6,4 bilhões.

Os coordenadores foram BTG Pactual (líder), Bradesco BBI, Itaú BBA, Safra e JP Morgan.

A Mater Dei, que pretende ser um consolidador no mercado de hospitais do Brasil, teve que passar a reta final da oferta explicando como a movimentação recente da Rede D’Or em seus mercados de Belo Horizonte e Salvador afetam a companhia.

A companhia disse a investidores que o terreno que a Rede D’Or comprou (ao lado do Biocor) tem 3 mil metros quadrados e um potencial construtivo para um hospital de 15 mil metros.  Para efeito de comparação, o Mater Dei Santo Agostinho tem 35 mil metros de área construída, o da Avenida do Contorno tem 66 mil metros, e o Mater Dei Betim, 44 mil.

A empresa também indicou que apenas 4% de seus pacientes em Belo Horizonte moram nas regiões de Nova Lima e do Belvedere, áreas de influência mais imediatas do futuro BH Star.

Na Bahia, onde a Rede D’Or cresceu de um para três hospitais nos últimos anos, a Mater Dei disse aos investidores que está construindo um ativo extremamente diferenciado: um hospital de 61 mil metros quadrados  e um centro médico de mais 10 mil metros.  No complexo, no bairro do Rio Vermelho, todos os apartamentos terão vista para o mar — certamente um traço que mineiros valorizam.

Com uma posição de caixa líquido no final do ano passado e mais os recursos da oferta, a Mater Dei agora poderá executar sua estratégia de M&A com amplo espaço para alavancagem, e uma moeda que pode facilitar a compra de hospitais de maior porte.

“Muitos hospitais não vão abrir capital nunca, mas tendo equity em uma rede — e uma rede que não é gigantesca — os donos podem se sentir mais relevantes e ser persuadidos a vender,” diz um investidor.

Para a família Salvador, o IPO abre um novo capítulo numa trajetória de mais de 40 anos. O desconto foi amargo mas, “para eles, isso é uma viagem, não um tiro curto,” disse uma pessoa próxima à família.