A Rede Mater Dei de Saúde contratou bancos para um IPO que deve levantar ao redor de R$ 1,6 bilhão e dar aos investidores a opção de um terceiro grupo hospitalar na Bolsa, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.

A companhia mandatou BTG Pactual (líder), Bradesco BBI, Itaú BBA, Safra e JP Morgan para a transação, que deve ser precificada em abril.  Antes disso, em março, o grupo Dasa/Ímpar deve vir a mercado com seu re-IPO; a companhia da família Bueno já é listada, o que permitirá uma oferta rápida.

Fundada há 40 anos em Belo Horizonte, a Mater Dei tem 1.080 leitos em três hospitais na Grande Belo Horizonte.  No ano que vem, a rede vai inaugurar um novo hospital em Salvador, seu primeiro fora de Minas Gerais, adicionando 367 leitos.

A companhia é a obra da vida do Dr. José Salvador, cujos quatro filhos e outros familiares administram o negócio; o primogênito, Henrique, é o CEO. (Hoje com 90 anos, o Dr. Salvador é o chairman da companhia.)

Em 2019, antes da pandemia deprimir e distorcer os números do setor, a Mater Dei faturou R$ 780 milhões e fez R$ 270 milhões em EBITDA.  Este ano, estes números devem crescer para R$ 950 milhões e R$ 315 milhões, segundo uma pessoa que conhece as projeções internas.

Depois de chegar até aqui construindo seus próprios hospitais, a família Salvador agora quer usar o IPO para bancar aquisições e se tornar uma consolidadora do mercado hospitalar.  Segundo uma pessoa próxima da família, já há pelo menos três aquisições engatilhadas. 

Um dos méritos da Mater Dei foi conseguir crescer num mercado dominado pela Unimed-BH, que — por ser benchmark de gestão entre as Unimeds nacionais — sempre afastou os grandes players do setor do filé mignon do mercado mineiro. 

Parte do sucesso da Mater Dei tem a ver com excelência operacional: todos os seus hospitais têm o carimbo da JCI, uma organização sem fins lucrativos que é a principal certificadora de hospitais no mundo.  No Brasil, a JCI certifica nomes como o Einstein, o Sírio-Libanês e alguns hospitais da Rede D’Or e da Ímpar.

Mas talvez o maior diferencial da companhia seja o fato de que esta reputação coexiste com uma gestão de custos espartana.

Enquanto os 130 maiores hospitais afiliados à Associação Nacional de Hospitais Privados têm uma margem EBITDA média de 13%, a Mater Dei fez uma margem de 35% em 2017, 2018 e 2019.  Para efeito de comparação, a margem da Rede D’Or é de cerca de 27%, e a da Ímpar, 20%.

Nos últimos anos, a Mater Dei resistiu a inúmeras ofertas de compra por parte de players estratégicos bem como à abordagem de fundos de private equity interessados em sociedade.

Agora, vai descobrir se é possível crescer num mercado onde dois concorrentes têm escala e talão de cheques substancialmente maiores.

 

ARQUIVO BJ

Hospitais:  Mater Dei (finalmente) quer expansão fora de Minas