A Rede Mater Dei pretende anunciar amanhã uma mudança relevante no comando da companhia hospitalar — com a terceira geração da família fundadora assumindo as rédeas e os filhos do fundador ficando apenas no conselho.
Henrique Salvador, o atual CEO, vai virar o chairman da companhia, um cargo ocupado até agora pelo fundador José Salvador Silva, que tem 92 anos e vai continuar no board, mas com menos envolvimento no dia a dia.
Para o seu lugar, a companhia designou o filho de Henrique, José Henrique Salvador, que está há três anos como COO e vem sendo preparado para assumir o comando há mais de 10 anos.
Ao mesmo tempo, as irmãs de Henrique — Maria Norma e Márcia Salvador Geo, respectivamente as vice-presidentes comerciais e assistenciais até agora — também estão deixando a operação e mantendo apenas seus assentos no conselho.
As duas serão substituídas por Renata Salvador Grande, filha de Renato Salvador (o terceiro irmão de Henrique), e por Felipe Salvador Ligório, filho de Maria Norma.
A companhia também anunciou que André Soares, um profissional de mercado que era o diretor do Mater Dei Betim-Contagem, se tornará o novo COO.
O plano de sucessão do Mater Dei foi desenhado em 2009 a quatro mãos entre a família e a Fundação Dom Cabral.
A família Salvador — que depois do IPO passou a deter 73% do capital da companhia — é composta por quatro núcleos que somam 10 netos do fundador.
“No plano de sucessão decidimos que apenas um dos netos de cada núcleo da família poderia atuar como diretor do grupo. E para isso essas quatro pessoas teriam que cumprir algumas exigências,” Henrique Salvador disse ao Brazil Journal.
As quatro exigências eram: fazer uma faculdade compatível com a área de negócios; trabalhar no Mater Dei por alguns anos; trabalhar em hospitais fora do Mater Dei por dois anos; e fazer um MBA em alguma das principais escolas de negócios do mundo.
Todos os três executivos da família que estão sendo promovidos cumpriram os quatro requisitos.
A quarta neta é Lara Salvador Geo, filha de Márcia Salvador, que está concluindo seu MBA na NYU e deve voltar para a companhia dentro de um ano. Seu cargo ainda não está definido.
Fundado em 1980, o Mater Dei começou com apenas um hospital, o Santo Agostinho, em Belo Horizonte. De lá para cá, a companhia executou uma expansão agressiva bancada principalmente pelos recursos de seu IPO em 2021, quando a companhia levantou R$ 1,4 bilhão. Hoje a rede tem 10 hospitais em regiões como Belo Horizonte, Salvador, Goiânia e Feira de Santana.
A transição será gradual. Nos próximos 10 meses, Henrique acumulará o cargo de CEO e chairman até passar o comando de forma definitiva para o filho, que além do Mater Dei teve passagens pela Dasa, Sírio Libanês e Einstein.
Neste processo de sucessão, “exigimos um padrão de formação e preparo muito elevado. Qualquer um deles que for para o mercado vai conseguir se colocar num cargo equivalente muito facilmente,” disse Henrique.
O anúncio, no entanto, deve pegar o mercado de surpresa. O Mater Dei não havia comunicado aos investidores exatamente como planejava fazer a sucessão — e nem que ela estava próxima de acontecer.
Segundo Henrique, a companhia optou por não comunicar o processo claramente “porque achamos que isso tinha que ser feito com um cuidado muito grande para não criar a síndrome do ‘príncipe herdeiro’,” disse ele. “Acho que no final conseguimos conduzir o processo de forma tranquila, o que é raro em sucessões desse tipo.”