Por muitos anos, as grandes empresas globais comandaram o que era bebido nos bares e baladas do Brasil — criando e empurrando as tendências goela abaixo do consumidor.
Esse tempo passou.
De uns anos para cá, parece que colocaram alguma coisa na água, e o brasileiro só quer saber das bebidas alternativas.
Esse fenômeno já pariu nomes como o gim Amázzoni, que recebeu um investimento da Pernod no ano passado, e o Vitória Régia, outro gim brasileiro feito apenas com ingredientes orgânicos.
Agora, está dando vida à JÓS, uma cachaça feita com jambu, a flor típica da Amazônia que quando ingerida causa uma sensação de dormência na boca — e que, reza a lenda, tem propriedades afrodisíacas.
Fundada há um ano por quatro amigos de infância, a JÓS já chegou a 200 pontos de venda em São Paulo e Curitiba e faz sucesso em casas hypadas como a Tokyo e o Pitico. A cachaça pode ser encontrada também nas gôndolas de supermercados como o Santa Luzia e o Empório Frei Caneca.
Para criar a bebida — que é usada principalmente na preparação de drinks como o cajazeira (uma espécie de ‘moscou mule’ brasileiro) — os quatro fundadores contrataram Aline Bortoletto, professora da Esalq/USP e uma das maiores autoridades em cachaça do Brasil.
“Queríamos uma cachaça que desse pra fazer qualquer drink; que passasse esse tremor e dormência, mas que fosse também agradável ao paladar e não tivesse muita informação sensorial,” Marcelo de Paula, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal.
Equilibrar tudo isso foi um processo complicado. Qual parte do jambu usar? Qual a proporção ideal de cada coisa? Quanto tempo deixar infusionado?
“É uma equação de muitas variáveis e sem resposta certa,” diz Marcelo.
Para chegar à fórmula ideal, que além da cachaça de jambu inclui açúcar e água, foi quase um ano de testes sensoriais.
A inspiração dos empreendedores surgiu durante uma viagem a Alter do Chão, um vilarejo no coração do Pará. Às vésperas do Réveillon de 2017, os quatro estavam num boteco no centro da cidadezinha quando foram apresentados pela primeira vez à cachaça de jambu — e se surpreenderam com o efeito de dormência e formigamento causado pelo flor.
“Quando experimentamos, um olhou um para o outro e falou: você também está sentindo isso?” lembra Guilherme Melo, o outro fundador.
Ao voltar para São Paulo, os quatro queriam levar a bebida para churrascos e festas com amigos, mas não achavam a bendita cachaça em lugar nenhum. Inconformados, decidiram criar sua própria marca e distribuí-la Brasil afora.
Desde que surgiu, a JÓS vendeu 15 mil garrafas, boa parte delas nos últimos meses. O faturamento ainda é pequeno — deve fechar em R$ 600 mil este ano — mas os targets são agressivos: R$ 2 milhões em 2020; R$ 5 milhões em 2021; e entre R$ 9 e R$ 16 milhões em 2022.
O plano dos fundadores — Marcelo, Guilherme, Renato Saghi e Rodrigo França — é transformar a JÓS numa holding de bebidas que tenha no portfólio opções que vão além da cachaça e atendam diversas ocasiões de consumo. Por enquanto, a startup lançou a Joselita, uma cachaça de jambu com gengibre que chegou aos bares há pouco mais de um mês.
Para 2020, está preparando dois novos produtos: uma marca de rum e uma cachaça pura (sem o jambu), usada para fazer caipirinha.
Guilherme diz que a cachaça pura tem uma sinergia grande de canal com os outros dois produtos, enquanto o investimento no rum busca antecipar uma tendência de mercado. Segundo ele, barmen e especialistas têm apontado a bebida como candidata a se tornar ‘o próximo gim tônica’.
Outro plano: internacionalizar a marca começando por Portugal, onde a cachaça já é uma velha conhecida dos patrícios. Para isso, os fundadores estão levantando uma rodada de seed money de até R$ 2 milhões com investidores estratégicos.
“Toda semana um gringo bate na nossa porta pra tentar fazer negócio,” diz Marcelo. “Eles ficam maravilhados com a bebida, porque é tudo que eles imaginam do Brasil. Cachaça feita com uma flor típica da Amazônia, que faz a boca formigar e ainda tem propriedades afrodisíacas. Um deles falou: ‘It’s Brazil in a bottle.’”
BRINDE MUSICAL
Inezita Barroso canta a “Marvada Pinga”