A Lojas Marisa está transferindo a gestão de sua operação de crédito para a Credsystem – num movimento que reduz o risco financeiro do negócio, levanta capital e melhora a estrutura de capital da companhia.
“Essa operação é transformacional pra nós,” o CEO João Nogueira Batista disse ao Brazil Journal. “O que vamos receber nessa transação dá mais do que temos de dívida de curto prazo.”
No final do segundo trimestre, a Marisa tinha R$ 120 milhões em dívidas de curto prazo e R$ 210 milhões de dívida total. A companhia vale R$ 236 milhões na Bolsa.
A Marisa não revelou o valor das luvas, mas disse que a Credsystem está fazendo o pagamento num prazo relativamente curto para levar o negócio, que até agora era operado pela própria Marisa por meio de sua financeira.
O acordo tem prazo de 15 anos e envolve ainda um profit sharing de 50% com a varejista.
A Marisa disse que estima uma receita de R$ 7 bilhões com a operação ao longo dos 15 anos e um lucro de R$ 1 bi atribuível à companhia.
Nas contas da varejista, considerando as luvas pagas pela Credsystem e o lucro estimado para o período – descontado a uma taxa de 15% – o net present value da operação é de cerca de R$ 400 milhões.
Segundo João, o acordo tem a ver com o fato de que “não sabemos operar banco.”
“Assim como outros varejistas, tivemos vários problemas com essa operação. Só este ano, a financeira drenou quase R$ 150 milhões de injeção de capital, que era um dinheiro que podia ter ido para o varejo,” disse ele. “Então achamos melhor fazer uma parceria com alguém que saiba fazer crédito.”
Segundo ele, a expectativa com a entrada da Credsystem é que haja uma aceleração da concessão de crédito, o que tende a estimular as vendas da varejista.
Além disso, “esperamos uma melhora na experiência dos clientes. Porque a gente ficava acelerando e pisando no freio de crédito, e isso atrapalha a experiência do cliente.”
João disse que a Credsystem tem mais de duas décadas de experiência em crédito e que sua família controladora também tem um background no varejo – eles são donos da Kallan Calçados, uma rede de lojas de calçados em São Paulo. “É gente muita séria, e um casamento que me deixa muito animado,” disse o CEO.
O acordo não envolve a carteira de crédito atual da Marisa, que soma cerca de R$ 400 milhões e está rodando com um nível de inadimplência na casa de 20%.
João disse que a empresa agora vai avaliar se mantém a financeira ou se fecha a operação. Pelos termos do acordo, a Marisa só vai poder continuar dando crédito aos fornecedores, já que a Credsystem terá exclusividade no crédito para os clientes (o empréstimo pessoal e o cartão private label). “Não sei se compensa manter uma operação para fazer só isso,” disse o CEO.
Caso decida fechar a financeira, João disse que a Marisa poderia liberar cerca de R$ 100 milhões em capital residual – considerando o recebimento de 100% da carteira, a liquidação do passivo e o capital que foi injetado na operação recentemente.
A transação anunciada hoje mostra como empresas médias que se alavancaram muito durante a pandemia têm encontrado saídas para sua crise por meio do enxugamento de custos e venda de ativos.
Quando a Marisa anunciou a reestruturação de sua dívida no início do ano, pouca gente acreditava que a varejista poderia conduzir seu turnaround com sucesso.
Desde que assumiu a companhia em fevereiro, o novo CEO já executou uma agenda robusta de corte de custos e melhora da rentabilidade. Nos últimos meses, a Marisa demitiu 25% de seus 8.000 funcionários e fechou 88 lojas que davam prejuízo.
No segundo tri, a companhia já conseguiu gerar caixa no conceito pro forma – ou seja, excluindo as lojas que foram fechadas e as despesas não recorrentes com as demissões. João disse que a geração de caixa do terceiro tri deve ser fraca, mas que a expectativa para o quarto tri é de uma forte geração de caixa operacional.
Segundo ele, ainda há alguma otimização a ser feita na parte de custos, mas são apenas ajustes finos. “Estamos entrando agora na etapa de ganho de produtividade, de investir mais nas lojas para aumentar a venda por metro quadrado.”
A BR Partners assessorou a Marisa na operação.