Com um arcabouço fiscal repleto de regras inconsistentes e que não ficam de pé, o Brasil está com uma série de problemas contratados pela frente.

Marcos Lisboa

“Mas pela primeira vez o País começou a debater esses problemas sem estar no meio de uma grande crise,” o economista Marcos Lisboa disse nesta entrevista ao Brazil Journal.

Lisboa, um dos arquitetos das reformas microeconômicas do primeiro Governo Lula, disse que o stress da última semana oferece a chance de uma correção de rota. 

“A boa notícia é que, se o Brasil conseguir enfrentar esses problemas profundamente e com as reformas necessárias, o País tem a oportunidade de um crescimento bem mais vigoroso do que a gente teve nos últimos 50 anos,” disse o economista.

Segundo ele, as contas públicas brasileiras possuem uma “peculiaridade” por causa das indexações: quando as coisas vão bem e as receitas aumentam, os gastos crescem automaticamente – mas quando as coisas vão mal, os gastos não podem cair. “Isso gera uma política fiscal procíclica.”

Outro ponto de preocupação, segundo ele, é que os ruídos envolvendo o Banco Central acabam elevando o custo da dívida pública. A alta nas taxas pagas pelo Tesouro decorre do “temor de complacência” do Governo com a inflação. 

“Toda vez que o Governo fala de despesas financeiras do Banco Central, de juros e de inflação – e dessa forma atrapalhada – as taxas de juros sobem, prejudicando a capacidade do Governo de se financiar.”

O setor privado, disse Lisboa, está sendo colocado em córner por causa das regras criadas para aumentar a arrecadação – mas, ao mesmo tempo, o Governo amplia o crédito de bancos públicos, “escolhendo vencedores.” 

Na conversa, Lisboa falou ainda que a insegurança jurídica e a tolerância com a corrupção estão levando empresas estrangeiras a deixar o País. “Os investidores estão indo embora.”

Em meio ao desânimo crescente, há um copo meio cheio?

“Pelo menos estamos falando dos problemas. É um avanço imenso para que a gente possa superá-los.”

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