“Acho que quis me matar durante muitos anos, sem saber que queria aquilo,” disse Maitê Proença, aos 66 anos. Relembrando sua difícil história familiar, a atriz revelou que se colocou em situações de alto risco, porque não via tanto valor na vida. “Se eu fosse embora, seria um grande alívio,” afirmou a Nilton Bonder neste episódio do The Business of Life.

Aos 12 anos, precisou lidar com a trágica morte de sua mãe – assassinada por seu pai por ciúmes. Anos depois, em 1989, seu pai se suicidou. Na sequência, seu irmão adotivo também tirou a própria vida. “A morte da minha mãe teve consequências em outras mortes igualmente trágicas. Todo mundo à minha volta foi afetado.”

Maitê Proença contou que precisou criar uma “persona para si” para poder ficar de pé. “Eu não tinha mais família. A família do lado da minha mãe nunca mais falou comigo [após o ocorrido],” por ela ter sido testemunha de defesa do pai no processo. “Escolhi não odiá-lo pois entendi, não sei como, que o ódio não levaria a um bom lugar.”

Após o falecimento da mãe, a atriz morou num pensionato luterano e estudou um tempo em Paris. Indecisa sobre qual profissão seguir, prestou vestibular para várias faculdades, mas resolveu viajar o mundo, indo para diversos países da Europa, África e Ásia. Dois anos depois, retornou ao Brasil e ingressou no teatro, convidada pelo diretor Antunes Filho. Em pouco tempo, estreou na TV: primeiro na TV Tupi, em 1979, com Dinheiro Vivo; depois, em 1980, na Globo, como uma das protagonistas na novela As Três Marias. 

O começo não foi fácil, porque ainda não estava pronta para expor minhas “vulnerabilidades emocionais,” afirmou. “Até meus 20 anos, eu era muito fechada. Achava que, se eu lidasse com o emocional, iria morrer. Aí bebi, me droguei, para dar conta de tudo.” O teatro foi desafiador no início, mas, ao mesmo tempo, maravilhoso. “Fui obrigada a mexer num vespeiro. Se tivesse escolhido outra profissão, teria vivido naquela aridez emocional até hoje.”

Ao longo da carreira, Maitê foi cronista, publicou romances, escreveu e produziu suas próprias peças de teatro. Sobre seu momento atual, ela afirmou: “Graças a Deus envelhecemos, porque as coisas vão ficando mais fáceis.”

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