Quando a RD Station foi fundada há 10 anos, o conceito de inbound marketing ainda era virtualmente desconhecido por boa parte das empresas — e a startup teve que suar a camisa para criar um mercado do zero.
Deu certo, e a empresa foi vendida para a Totvs por quase R$ 2 bilhões no ano passado.
O empreendedor Felipe Spina acha que está diante de uma situação bem parecida com sua recém fundada startup, a Maestro ABM, que opera num novo nicho do marketing.
“O mercado de ABM [a sigla para Account-Based Marketing] ainda mal existe no Brasil. Não tem ninguém fazendo isso e as empresas só estão começando agora a entender esse conceito,” Spina disse ao Brazil Journal.
(Para quem não é do setor, ABM é um marketing mais personalizado e direcionado para alvos pré-definidos, apenas as contas que realmente tem potencial de virarem clientes — diferente dos chamados inbound e outbound marketing, que atiram para todos os lados. Ou, como diz Spina, “quem fala com todo mundo não fala com ninguém”.)
Antes de fundar a Maestro, Spina trabalhou quatro anos na RD Station e outros quatro na Distrito, onde é sócio até hoje.
Sua tese é aproveitar que ninguém está olhando para esse mercado e posicionar a Maestro como o principal player de ABM do Brasil — conquistando um market share relevante.
“Se trabalharmos bem, acho que no futuro podemos ter um market share igual ao que a RD tem em inbound, que é perto de uns 80%,” disse ele.
A estimativa é que o mercado de ABM movimente US$ 1,6 bilhão em todo o mundo em 2027 — mais ou menos o dobro do que movimenta hoje.
Para colocar a orquestra na rua, a Maestro acaba de levantar uma rodada pre-seed com a SaaSholic, a gestora especializada em software as a service de Diego Gomes, William Cordeiro e Gustavo Souza.
O cheque foi de apenas US$ 130 mil, mas a startup já pensa em levantar mais US$ 1 milhão até o final do ano.
Basicamente, o software da Maestro ajuda empresas e startups que vendem para grandes companhias a orquestrar (daí o nome da startup) a jornada de ABM.
Primeiro, o usuário da ABM faz o upload dos contatos das pessoas-chave em seus clientes-alvo. O software então sugere as iniciativas que o usuário tomar — como enviar um gift card, contactar no Linkedin, ou mandar um email – e para qual pessoa dentro do cliente.
A empresa vai seguindo as sugestões do software e marcando quando uma tarefa tiver sido concluída. O dashboard mostra como está o desenvolvimento de cada objetivo — dando um score para a probabilidade de cada contrato ser fechado.
“É uma abordagem bem personalizada, para trazer mais qualidade do que quantidade,” disse o fundador. “Por enquanto estamos bem high touch, um modelo meio Salesforce, com consultoria nossa para ajudar os clientes a usar o software. Mas em breve pensamos em tornar a plataforma mais autosserviço.”
Em cinco meses de vida, a Maestro conquistou 11 clientes, incluindo a Zenvia, a Turivius e a Soluti. As companhias pagam uma assinatura semestral que gira em torno de R$ 60 mil. A meta da Maestro é faturar R$ 1 milhão em seu primeiro ano de vida — até agora, metade disso já foi faturado.
Como nove em cada dez startups, a Maestro está trazendo para o Brasil um mercado que já está maduro nos Estados Unidos.
Empresas como a 6Sense, DemandBase e Terminus já atuam há anos nesse mercado — e já fizeram rodadas bem gordas. A 6Sense, por exemplo, levantou US$ 200 milhões há alguns meses numa rodada liderada pela Tiger que avaliou a startup em US$ 5,2 bilhões.