Lucinha Araújo transformou a dor de perder o filho em um legado. Neste episódio de The Business Of Life, ela conta a Nilton Bonder como a morte de Cazuza — e a força de enfrentá-la — se tornaram sua razão para continuar.


Nascida em Vassouras, em 1936, Maria Lúcia da Silva Araújo foi costureira antes de tudo: “Era requisitada. Quando eu casei, ganhava muito mais que o João.” Mais tarde, seu marido, o empresário João Araújo (1935-2013), fundaria a Som Livre e lançaria nomes que mudaram a MPB. Até a própria Lucinha tem carreira musical, com dois álbuns: Do Mesmo Verão, de 1980, e Tal Qual Eu Sou, de 1982.

Por conta disso, a casa onde cresceu Agenor de Miranda Araújo Neto era repleta de convidados. “Uma vez saímos à noite. Nós chegamos, estavam as luzes todas acesas. ‘O que foi, Cazuza?’ ‘Os Novos Baianos estão aqui, vocês não estavam, mas estou aqui conversando com eles.’ Ele tinha 11 anos,” conta Lucinha.

De comportamento difícil, Cazuza conciliou a vida boêmia, um grupo de teatro e um emprego na Som Livre— onde, ao lado de Lulu Santos, ouvia fitas de artistas em busca de um contrato. A virada veio com o Barão Vermelho: “Depois que ele descobriu o Barão, não houve quem segurasse”, diz Lucinha. O pai resistiu, até vê-lo cantar. “Quando ele viu o filho no estúdio, quase caiu duro.”

O sucesso foi imediato. “Nessa altura, ele era muito cheio dele,” conta. Ela dá detalhes sobre como descobriu que o filho tinha AIDS e como entendeu sua decisão de falar e cantar sobre: “‘O meu público não vai acreditar em tudo que eu canto se eu não contar’. Então ele contou.”

Cazuza morreu em 1990. Logo em seguida, Lucinha fundou a Sociedade Viva Cazuza,para acolher crianças soropositivas. “No dia seguinte que ele morreu, eu disse: ou eu morro junto com ele, ou faço alguma coisa.” Hoje, a ONG atende cerca de 250 adultos vivendo com HIV, financiada pelos direitos autorais do filho.

Em 1997, lançou o livro Cazuza: Só as Mães São Felizes, em parceria com Regina Echeverria, que se tornou a base para a cinebiografia Cazuza – O Tempo Não Para, de 2004.

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