As peças voltaram a se encaixar a favor do Brasil na alocação dos investidores globais em mercados emergentes – e a entrada dos estrangeiros na Bolsa está positiva pelo segundo mês consecutivo.

Aleluia.

“Existem duas expressões que evito usar – ‘dessa vez é diferente’ e ‘agora vai’ – mas o Brasil venceu alguns dos obstáculos que vinham inibindo os investidores estrangeiros,” comentou o executivo de um grande banco americano em São Paulo.

A Bolsa brasileira mantém uma grande correlação inversa com os juros americanos – e os yields das Treasuries recuaram nas últimas semanas.

O Federal Reserve deverá iniciar no próximo mês um ciclo de redução da taxa básica, como Jerome Powell indicou na sexta-feira em seu discurso em Jackson Hole.

“A hora chegou,” disse o presidente do Fed.

Para os mercados emergentes, tem sido uma longa espera.

O alívio favorece os ativos de risco – incluindo aí as ações brasileiras.

Depois de uma saída líquida em todos os meses do primeiro semestre, o ingresso de capital estrangeiro na Bolsa voltou a ficar positivo em julho – um movimento que continua em agosto.

Somando o ingresso no mercado à vista e no futuro, a entrada de recursos no bimestre totalizou R$ 23 bilhões. No acumulado do ano, o saldo ainda se encontra negativo: uma fuga de R$ 26 bilhões.

Mas a rotação dos recursos investidos em mercados emergentes voltou a soprar a favor do Brasil, disse o Morgan Stanley num relatório de hoje.

“Acreditamos que o potencial soft landing da economia americana poderá atrair mais fluxo estrangeiro para as ações brasileiras,” escreveram os estrategistas.

Segundo o relatório, o Brasil “passou a ser o maior overweight no portfólio dos investidores em mercados emergentes, que estão saindo da China e do México.”

O Morgan Stanley rebaixou recentemente o México para underweight. Motivo: a “reforma não ortodoxa” do Judiciário que o Executivo encaminhou ao Congresso elevou os riscos do mercado local e deverá afetar os investimentos de longo prazo no país.

O diretor local de um banco de Wall Street disse que era difícil atrair os estrangeiros enquanto havia opções mais promissoras em outros países – tanto nos EUA como em alguns emergentes asiáticos, sobretudo Índia, Taiwan e Coréia do Sul.

“A barra estava muito alta,” afirmou. “Tinha muitos ifs para o estrangeiro investir no Brasil.”

Pesava sobre o Brasil também sua dependência em relação à China, que passa por uma desaceleração considerável desde 2021.

Por fim, as ações brasileiras que vinham performando bem são as listadas nos EUA – e que a partir de setembro serão incluídas no índice MSCI Brasil.

Com o cenário lá fora mais favorável, um dos principais ifs passou a ser a curva local de juros.

“Entre as economias mais relevantes do mundo, apenas Japão e Brasil estão com alta de juros precificada na curva,” observou o executivo de um banco estrangeiro.

Aqui, os múltiplos em patamares baixos contribuem para a atratividade da Bolsa nesta rotação nos mercados globais.

As ações brasileiras cobertas pelo Morgan Stanley negociam hoje a 8,9x o lucro projetado, ou -1,2 desvio-padrão abaixo de sua média de 11,7x para os últimos 14 anos.

Já o Bank of America disse na sexta-feira que o Ibovespa continuava com um desconto médio de 23% em relação à média histórica – mesmo depois de ter atingido seu all-time high em pontos.

Mas há um porém. Segundo o BofA, excluindo os papéis do setor de commodities, o desconto já não é tão grande: está em 7%, contra 19% no final de junho.

As coisas estão melhorando, mas ainda é cedo para pensar numa retomada dos IPOs.

“O fluxo de estrangeiros que está chegando é para comprar o que está listado e pelos preços atuais,” disse. “IPO fica para uma segunda derivada, exige uma maior recorrência.”