Em sua recente viagem a Nova York, o Presidente Lula pediu para acompanhar o ministro Fernando Haddad em uma reunião com as agências de classificação de risco.

“Chamei as agências de rating porque é importante que elas saibam da boca do presidente da República o que está acontecendo no País,” declarou Lula aos jornalistas. “Não precisa ouvir só os empresários. Ouçam os trabalhadores e o Presidente da República.”

O lobby deu certo.

A Moody’s elevou agora à tarde a nota de crédito brasileira e deixou o País a um passo de reconquistar o investment grade.

A agência elevou a nota soberana de Ba2 para Ba1, apenas um degrau abaixo da classificação considerada grau de investimento em sua escala.

A perspectiva é “positiva”,  indicando que o próximo movimento mais provável é uma nova melhora da nota.

Segundo a Moody’s, a elevação se deve à melhora na qualidade do crédito, graças ao crescimento mais robusto da economia – que favorece a dinâmica da dívida – e às reformas fiscais.

A agência ressaltou, contudo, que a “credibilidade do arcabouço fiscal ainda é moderada, como se reflete no custo elevado da dívida.”

“O outlook positivo reflete a possibilidade de que o crescimento econômico estável e o cumprimento do arcabouço fiscal ajudem a fortalecer a credibilidade institucional e reduzir os custos da dívida de maneira mais significativa do que esperávamos,” disse a agência.

Para a Moody’s, a redução do custo terá um impacto positivo na trajetória da dívida, “especialmente combinado ao crescimento da economia mais robusto em relação ao previsto, permitindo um decréscimo do endividamento no médio prazo.”

Agora, a Moody’s, que era a mais conservadora em relação ao Brasil até o ano passado, está mais otimista do que as outras duas principais agências de rating. A Standard & Poor’s e a Fitch classificam o País como BB, dois níveis abaixo do grau de investimento, a perspectiva para ambas é estável.

A notícia pegou os gestores da Faria Lima e do Leblon de surpresa; parecia improvável uma elevação da nota quando a dívida permanece em escala ascendente.

“Para mim foi surpreendente,” Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e fundador da Oriz Partners, disse ao Brazil Journal.

O economista reconheceu que o desempenho do PIB acima das expectativas nos últimos anos poderia favorecer, de fato, a trajetória da dívida. A arrecadação em alta também contribui para uma possível melhora na dinâmica da dívida.

Para Kawall, contudo, esses efeitos positivos poderão ser de curto prazo, por causa da rigidez do gasto público e indexação de despesas com educação e saúde, além dos aumentos reais do salário mínimo.

“Entendo que a leitura feita pela Moody’s dos riscos fiscais foi benevolente,” disse Kawall. “Tenho uma visão mais conservadora. Não estamos observando uma redução do endividamento, pelo contrário, e o custo da dívida subiu em relação ao que era no início do Governo.”

Segundo Kawall, o crescimento mais robusto do PIB e a “exuberância” na arrecadação não estão fechando a conta do arcabouço. “Não parece haver um quadro de consolidação fiscal à frente.”

De acordo com o executivo de um banco estrangeiro, o “o racional da Moody’s não convenceu ninguém com quem eu falei.”

Mas para o economista-chefe do Master, Paulo Gala, o upgrade foi “razoável” porque o País está bem quando comparado aos seus pares.

“Dado o contexto, o que a Moody’s está dizendo é que o Brasil faz uma boa gestão da questão fiscal, embora ainda relativamente frágil,” comentou. “Há sim uma pressão fiscal, o Governo está gastando muito. Há dificuldade para atingir a meta de déficit primário.”

Em sua avaliação, a grande novidade positiva foi a volta de um crescimento econômico mais vigoroso.

“Com crescimento de 3% ao ano tudo fica mais fácil,” disse Gala.

Há ceticismo entre os gestores de que seja possível a recuperação do grau de investimento antes do final do Governo Lula, mas Haddad disse hoje que trabalha com essa meta.

Para o ministro, não é algo “dado” e “temos trabalho a fazer, mas é uma possibilidade concreta.”

“Se continuarmos perseverando nesse caminho ajustando o fiscal e o monetário, temos uma grande chance de conseguir uma estabilidade da relação dívida/PIB,” afirmou Haddad.

Na avaliação da Moody’s, seguidos governos brasileiros conseguiram realizar avanços recentemente, “a despeito do ambiente político polarizado.” A agência citou a reforma tributária, que “deverá contribuir para o aumento do PIB potencial.”

A economista Solange Srour, do UBS Wealth Management, está no time dos que foram surpreendidos pelo upgrade e acredita que a trajetória da dívida ainda preocupa.

“Um país que precisa financiar uma dívida de cerca de 80% do PIB com juros reais de 6,5% não pode se dar ao luxo de achar que o crescimento da dívida não importa,” disse ela. “Se o investidor não tiver um horizonte de estabilização, continuará pedindo mais prêmio.”