A gestora de venture capital A5 Capital Partners, de Renato Ramalho, está adquirindo a Inseed, uma gestora mineira que administra três fundos de inovação liderados pelo BNDES.

Com a fusão — uma rara consolidação no venture capital no Brasil — a nova casa vai se chamar KPTL, e nasce como o maior gestor de fundos de VC com sede no Brasil e capital nacional, com R$ 700 milhões sob gestão e 89 startups investidas – das quais 46 seguem no portfólio. 

(Das desinvestidas, 28 caíram no vale da morte e 15 tiveram taxa de retorno acima de 20%.)

A KPTL já está captando um novo fundo de R$ 600 milhões e quer investir em dez companhias em 2020. Metade desse valor deve entrar ainda no primeiro trimestre.

A fusão das gestoras vai permitir a entrada em rodadas Série A ou B, com cheques de até R$ 80 milhões. Hoje A5 e Inseed atuam como anjos, investindo capital semente. 

“São raros os gestores nacionais com cheque pra série A,” diz Ramalho, o CEO da KPTL, para quem são os fundos com sede lá fora que fomentam os unicórnios no Brasil. “Eu não crio unicórnios. Prefiro 10 empresas de R$ 100 milhões a uma de R$ 1 bi.”

Patinetes elétricas estão fora do radar.  “Sou maratonista, não entro em corrida de 100 metros que não sei onde vai dar. Não topo esse risco.”

A5 e Inseed têm portfólios bem diferentes – mas em comum, a origem empreendedora.

A A5 investe em startups como a Zarpo (agência de viagens online), o Q!Bazar (outlet virtual multimarcas) e o Mark 2 Market (software de gestão de tesouraria). Foi fundada por Ramalho e Paulo Humberg, o criador do Shoptime, hoje parte da B2W. Os dois se conheceram empreendendo, no tempo da internet discada. Humberg hoje é minoritário e não participa do dia a dia.

A Inseed – que gere os fundos Criatec I e III e FIMA, liderados pelo BNDES e bancos de fomento estaduais – apoia pesquisadores de universidades para desenvolver negócios de base tecnológica. 

Muitas de suas investidas dão tão certo que acabam nas mãos de multinacionais. A Rizoflora – um spinoff da Universidade Federal de Viçosa que produz biodefensivos de uso agrícola – foi vendida para a americana Stoller em 2016.

A KPTL vai se concentrar em três setores: agrotech, healthtech e govtech – sempre com forte base científica ou tecnológica. “O novo Google do agro vai sair do Brasil”, aposta Renato. 

No caso das govtechs, a aposta é que a crise fiscal vai obrigar governos a buscar soluções tecnológicas para aumentar a eficiência na gestão pública – estimulando o surgimento de startups.

A Inseed foi criada por Gustavo Junqueira, um mineiro que vive em um sítio de 5 mil metros quadrados de mata nativa e de lá não sai. 

Administrador com passagem pela E&Y, criou em 2000 o Instituto Inovação, uma consultoria de gestão para fazer a ponte entre a pesquisa fundamental das universidades e o mercado. 

Em 2007, quando surgiu o edital do primeiro Criatec, o Instituto Inovação virou Inseed e passou a atuar também como gestor. Os três fundos geridos pela Inseed somam R$ 485 milhões.

Junqueira buscava um parceiro estratégico quando foi procurado pelo A5. “Queria um sócio pra fazer com a gente o mesmo que fazemos com as investidas: crescer de forma acelerada”, diz Junqueira, agora COO da KPTL. 

A KPTL quer reduzir a dependência do BNDES – embora não descarte participar de novos editais, caso surjam. O novo fundo vai focar em family offices e fundos de pensão em busca de alternativas ao CDI. 

O mercado de venture capital dobra de tamanho a cada ano, mas ainda é bastante pulverizado – são 55 gestoras e R$ 8 bilhões investidos este ano. 

Depois da Inseed, a KPTL já tem outros ativos em vista. No radar, gestores de venture capital com ativos superiores a R$ 100 milhões, especialização em alguma vertical e que entreguem 2/20 (2% de taxa de administração e 20% de performance). “Menos que isso a conta não fecha.”