O JP Morgan publicou hoje um relatório analisando os oito fatores que vão determinar o desempenho da Bolsa brasileira em 2024. 

Emy Shayo, a estrategista de ações para o Brasil e América Latina, vê um upside de 10% para o Ibovespa, com o índice subindo a 142 mil pontos. No cenário mais bullish, a Bolsa sobe 20%, no bearish, cai 20%. 

Hoje com um múltiplo de 7,6x, a Bolsa brasileira é uma das mais baratas do mundo – só um punhado de países, como a Colômbia e o Egito, tem múltiplos ainda menores. A média histórica do Brasil é 10,5x, em linha com o atual múltiplo dos emergentes. 

Mas com os juros reais ainda elevados, os investidores domésticos resistem em sair da renda fixa. Por isso, no curto prazo o dinheiro de fora será determinante para o desempenho do mercado brasileiro, diz o banco. 

A seguir, os 8 fatores que devem impactar a Bolsa este ano.

1. Fluxo estrangeiro

“A chave para o desempenho do mercado será o fluxo dos estrangeiros,” diz o relatório. “Os locais ainda não estão prontos para voltar para a renda variável, mesmo com a queda dos juros.” 

Os juros reais estão em 6% e, mesmo recuando para 5% ou 4,5%, ainda continuarão atraentes para os investidores domésticos. 

O valuation atraente e a queda no apetite pela China deverão favorecer o ingresso do investidor externo. Mas o ano começou de maneira frustrante, com uma saída de R$ 4 bilhões dos estrangeiros em janeiro até agora.

2. Queda dos juros não precificada

A cada redução de 1 ponto percentual na Selic, a Bolsa sobe 5,5%, observa o JP a partir de dados históricos – e esse efeito ainda não está totalmente precificado na Bolsa. 

“Gostamos de uma exposição a corte de juros com ações do setor financeiro, que são também tipicamente uma porta de entrada para estrangeiros” afirmam os estrategistas. “Shoppings também devem ter um melhor desempenho com juros mais baixos.” 

3. O PIB deve acelerar 

O crescimento do PIB deve cair de 3% em 2023 para 1,6% este ano, mas o JP Morgan destaca que, na realidade, haverá ao longo de 2024 uma aceleração em relação ao ritmo da economia no segundo semestre do ano passado. 

“Enquanto a variação no segundo semestre de 2023 deve ter sido 0%, no primeiro semestre de 2024 ela deverá ser de 2%,” estima o banco. 

Assim, é possível que o crescimento do ano fique acima das estimativas iniciais. 

4. Um consumo melhor que o esperado 

O consumidor brasileiro pode estar em uma situação mais confortável do que se imagina, diz o relatório. 

O banco ressalta os bons números do mercado de trabalho, com avanço do emprego e da renda real – graças, em parte, ao recuo da inflação. Os últimos resultados do varejo e do setor de serviços vieram acima das expectativas.  

Segundo o JP, não se deve esquecer que 21 milhões de famílias recebem o Bolsa Família e que o benefício médio subiu 70% no último ano. Além disso, o Governo pagará em breve R$ 93 bilhões em precatórios atrasados – e pelo menos metade desse dinheiro vai irrigar o consumo.  

5. Fiscal e política 

Este é o “calcanhar de Aquiles” do Brasil, apontam os estrategistas.  

“Enquanto o governo tiver bons índices de aprovação, há uma chance de o fiscal ser mantido,” afirma o banco. “Se a economia piorar e a popularidade de Lula mergulhar, a pressão por aumento de gastos deverá crescer.” 

Uma amostra do que poderá estar a caminho é o uso de políticas parafiscais, como indicou o anúncio da nova política industrial

“Acendeu a luz amarela,” alertam os estrategistas. “Enquanto isso, o Congresso, que seria o guardião da política econômica, aprovou gastos acima dos esperados para emendas e fundo eleitoral.” 

6. O petróleo é (quase) o novo agro 

O que o agronegócio fez pelo PIB e pelas contas públicas em 2023, o petróleo deverá fazer a partir de 2024 – e ainda mais nos anos à frente. 

“Estimamos que a produção da Petrobras crescerá de 2,8 milhões de barris/dia para 3,3 milhões de barris/dia nos próximos cinco anos,” diz o relatório. 

Um aumento de 15% na produção de petróleo pode resultar num avanço de 0,5% ponto percentual no PIB. 

A receita do petróleo representa um quarto da balança comercial e deverá ajudar ainda mais nos resultados das contas externas. Ajudará também nos números fiscais. 

7. Os valuations estão OK 

Entre os 10 setores do MSCI Brazil, sete estão negociando abaixo de suas médias históricas: energia, materiais, industriais, financeiros, discricionários, básicos e saúde. 

Ainda assim, depois da alta de novembro e dezembro, o JP Morgan diz que alguns clientes não veem os preços de alguns papéis como atraentes. 

Para o banco, os valuations não são impeditivos para o aumento do fluxo, desde que: as empresas apresentem bons resultados; a taxa dos Treasuries de 10 anos não fique acima de 4%; e haja uma aceleração dos cortes no Brasil (algo fora do cenário hoje). 

8. O quebra-cabeça dos resultados 

O consenso de mercado aponta para um aumento de 4% nos lucros em 2024, o que é melhor do que a queda de dois dígitos no ano passado. 

É um número que não impressiona, diz o JP, particularmente quando se espera uma alta de 17% nos lucros de empresas de mercados emergentes como um todo. 

“Revisões de lucros serão necessárias para tornar essa história mais atraente,” diz o banco. 

Nas duas últimas temporadas de resultado, os números vieram melhores que o esperado, mas não houve revisões de estimativas.  

“Agora deverá ser diferente,” dizem os estrategistas. “As companhias devem apresentar alavancagem operacional, com redução dos custos, juros mais baixos e aceleração da economia na margem.”