Foi o assunto da semana entre os podcasters.

O Spotify fechou um contrato de licenciamento com Joe Rogan, um dos maiores podcasters dos Estados Unidos (talvez do mundo) com uma audiência de milhões de ouvintes. 

A partir de setembro, todos os podcasts de Rogan serão transmitidos com exclusividade no Spotify, e sua biblioteca de milhares de programas estará disponível apenas na plataforma. 

Até agora, Rogan se recusava a fazer suas transmissões no Spotify justificando que o serviço de streaming não pagava o suficiente e que ele já gerava receita significativa em outras plataformas, como o Youtube. 

O The Wall Street Journal estima que o valor do contrato gire em torno de US$ 100 milhões — o maior contrato de licenciamento já feito no setor e algo impensável para um podcast alguns anos atrás. 

Criado em 2009, o podcast de Rogan traz longas entrevistas com personalidades diversas, recheadas de palavrões e observações peculiares sobre as notícias. Já passaram pelo podcast de Rogan — que se apresenta como um defensor da liberdade de expressão e inimigo do politicamente correto — figuras como Elon Musk e o democrata Bernie Sanders. 

No fim do dia, o Spotify está comprando a lealdade dos ouvintes de Rogan, e a possibilidade de fidelizar um exército de milhões de americanos.

“O contrato dá ao Spotify a oportunidade de monetizar essa audiência aumentando a atração de anunciantes ou convertendo essa base em assinantes premium,” escreveu uma analista da Forrester, empresa de pesquisa de mercado especializada em mídia. 

Uma versão moderna do rádio, o podcast se popularizou nos últimos anos na medida em que as pessoas tentam aproveitar o tempo parado no trânsito ou na esteira da academia — mas se tornou um gênero próprio e uma indústria de mais de US$ 600 milhões em publicidade nos EUA.

Hoje, 54% dos usuários do Spotify com 12 a 24 anos já escutam algum podcast na plataforma, que estima que os podcasts representarão 20% de tudo o que as pessoas ouvirão no Spotify em alguns anos.

O Spotify tem feito uma série de transações envolvendo o universo dos podcasts. 

No ano passado, gastou US$ 340 milhões na compra da Anchor, uma ferramenta para a criação de podcasts, e da Gimlet, uma das maiores produtoras de podcasts de ficção e não-ficção e que já teve um de seus programas, ‘Homecoming’, adaptado para uma série da Amazon, com Julia Roberts no papel principal.

No início deste ano, o Spotify comprou o The Ringer, a plataforma de podcasts de Bill Simmons. A The Ringer tem mais de 30 podcasts diferentes, incluindo o “The Bill Simmons Podcast” e “The Rewatchables.” 

No Brasil, os podcasts têm conquistado cada vez mais ouvidos — apesar do mercado ainda ser uma fração do americano.

O líder absoluto é o Nerdcast, criado em 2006 e que chegou a 1 bilhão de downloads em novembro passado. O programa sobre séries, games, filmes e ciência foi o terceiro podcast do mundo a atingir esse número, juntando-se ao ‘Stuff You Should Know’ e ao ‘The Daily’, do The New York Times.

Todos os grandes veículos de comunicação já viram a oportunidade e estão investindo pesado no formato. Mas, tirando algumas exceções, os números ainda são pequenos. 

A revista VEJA, que tem podcasts como o “Funcionário da Semana” e o “Três Poderes”, tem uma audiência mensal somada de apenas 10 mil ouvintes no Spotify e 50 mil no Youtube — ou 40 mil downloads e 200 mil, respectivamente (números ínfimos comparados às dezenas de milhões de leitores que acessam seu site todos os meses).

“No Brasil, é um fenômeno relativamente novo e acho que ninguém conseguiu encontrar ainda um formato de notícias que atinja as massas da maneira certa,” diz Thomaz Molina, responsável pelos podcasts da revista. 

Um ponto fora da curva é o “O Assunto”, apresentado pela jornalista Renata Lo Prete e veiculado no G1 desde agosto de 2019. O programa acaba de atingir 20 milhões de downloads, segundo o próprio G1.

Outro case de sucesso é o “Stock Pickers”, criado pelo ex-editor-chefe do Infomoney, Thiago Salomão. Em um ano, o programa de entrevistas com gestores de ações chegou a mais de 250 mil ouvintes por mês.

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