Empresário tradicional do rádio, Neneto Camargo repete há décadas o mantra: “Enquanto fabricarem carro com rádio e houver engarrafamento, o rádio vai continuar sendo um bom negócio.”

Agora, Neneto e seu irmão João Camargo — o presidente da CNN Brasil e controlador da Esfera, o grupo de networking entre o setor público e o privado — estão dobrando a aposta neste formato.

neneto camargo 1A família Camargo — que também inclui os irmãos José Camargo Júnior, Denise e Renata — acaba de chegar a um acordo com a família do banqueiro Aloysio Faria para comprar a Transamérica, uma rede de seis emissoras nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília e Recife.

O faturamento da Transamérica não é público, mas especialistas de mercado estimam que gire entre R$ 60 milhões e R$ 80 milhões. Segundo João Camargo, a operação é superavitária. 

A transação aumenta o portfólio de ativos de mídia sob o comando do empresário, hoje uma das pessoas mais influentes do País dado seu amplo trânsito em Brasília. 

A família Camargo já era dona da Alpha FM, a segunda rádio mais ouvida da cidade de São Paulo, da Disney FM, voltada para o público jovem, e da 89 FM, especializada em rock. Neneto e João também são investidores da Nativa FM e da Band FM, sem seus irmãos. 

O forte da Transamérica é sua cobertura de esportes, que responde por cerca de 60% da grade, com conteúdos que vão desde transmissões ao vivo de jogos de futebol até comentários pré- e pós-jogos e notícias sobre movimentações do mundo dos esportes. 

Neneto disse que a intenção é manter este foco, aproveitando a boa fase desse mercado – especialmente com o crescimento das empresas de apostas esportivas. 

“Queremos aproveitar a presença do Eder Luiz [um dos principais locutores esportivos do Brasil e o grande nome da Transamérica] para fortalecer ainda mais essa frente,” o empresário disse ao Brazil Journal

“A posição da Transamérica já é boa, com uma audiência fiel, principalmente nos dias de jogos. Mas acho que ela tem condições de melhorar mais. Não para competir com as rádios populares, de música, mas dá para aumentar a audiência.”

Segundo ele, sua meta para os próximos anos é dobrar o faturamento da rede, abrindo novas frentes na programação, criando formatos diferentes e atraindo mais anunciantes. 

Joao camargoHoje, a Transamerica não aparece entre as 10 maiores audiências de São Paulo, segundo o ranking de dezembro da Kantar Ibope Media.  O mercado de São Paulo é liderado pela Band FM, Alpha, Jovem Pan e Nativa, nesta ordem.

Apesar do momento de transformação da mídia e do crescimento da audiência dos podcasts, Neneto garante que o rádio “nunca teve uma fase para baixo. A audiência é muito boa, principalmente nas capitais, onde tem muito trânsito e as pessoas ficam horas dentro do carro,” disse. 

Segundo a Kantar, 79% da população brasileira escutam rádio, ouvindo em média 3h55 por dia. No Rio de Janeiro, o estado líder no ranking, são mais de 4h20/dia.  

“O rádio fala de tudo que está acontecendo: do esporte, da cultura, dos eventos,” disse Neneto. “Mas a força do rádio é local, não estadual e nacional. Tem que conversar com os interesses das pessoas que estão na cidade.”

João Camargo disse ao Brazil Journal que não há ligação entre a Transamérica, a CNN Brasil (onde ele é o chairman e dono de 30% do capital) e a Esfera, que ele controla sozinho e é comandada por sua filha. “São negócios separados, que não se misturam. O rádio é uma operação da família,” disse. 

Para a família Faria, a venda da Transamérica é um dos últimos desinvestimentos do espólio de Aloysio Faria, que morreu em setembro de 2020. 

Os Faria já venderam o banco Alfa para o Safra por mais de R$ 1 bilhão, o terreno do Hotel Transamérica em São Paulo para o BTG, além da C&C para a gestora AGI. A família ainda está tentando vender a água mineral Prata, a produtora de óleo de palma Agropalma, e a rede de sorveterias La Basque.