A JBS disse que vai listar sua ação na New York Stock Exchange — um movimento que pode aumentar o múltiplo de mercado da empresa, reduzir seu custo de capital e criar uma moeda poderosa para sua agenda de M&As.
“Essa listagem tem tudo para ser um movimento tão transformacional para nós quanto a nossa abertura de capital anos atrás,” o CEO Gilberto Tomazoni disse ao Brazil Journal.
Em muitos sentidos, a JBS já é uma empresa mais global do que brasileira. Cerca de 53% do faturamento da companhia nos últimos 12 meses vieram dos EUA, contra 24% do Brasil.
Em termos da receita líquida por destino, os EUA respondem por 49%, a Ásia, 15%, e o Brasil, 12%. Cerca de 75% do EBITDA da companhia é feito fora do Brasil.
Com a listagem, a JBS espera fechar seu gap de valuation em relação a concorrentes americanos como a Tyson Foods, que negocia a 11,5x EV/EBITDA 2023, contra um múltiplo de apenas 5,9x para a ação da JBS.
A Pilgrim’s Pride, a empresa de frangos americana na qual a JBS tem 82% do capital, negocia a 9,3x – outro prêmio substancial sobre sua controladora.
A companhia deve convocar uma AGE nos próximos 30 dias para aprovar a proposta, e a listagem nos EUA deve se tornar efetiva em algum momento em dezembro.
O veículo a ser listado em Nova York é a JBS N.V., uma holding não operacional com sede na Holanda. Esta empresa, por sua vez, deterá 100% da JBS S.A., que controla todos os ativos operacionais da companhia.
A listagem nos EUA dará à JBS flexibilidade para perseguir sua estratégia de aquisições de maior valor agregado – acessando o mercado de capitais mais líquido do mundo no que a companhia espera serão múltiplos maiores.
Um eventual aumento de capital ajudaria a JBS a turbinar a liquidez do papel. Hoje, o free float nominal da JBS é de 30%, já que a família Batista tem 48,8% e o BNDES 20,8%. No entanto, grandes investidores institucionais costumam encarteirar o papel, reduzindo o float efetivo para entre 10% e 15%.
A JBS vai dar aos investidores a escolha entre deter BDRs no Brasil, ações Classe A — que serão listadas na NYSE e terão direito a um voto — ou ações Classe B não-listadas mas com direito a 10 votos por ação e conversíveis a qualquer momento.
Em estrutura desse tipo, o mais lógico é que a família Batista — hoje o acionista controlador — prefira a Classe B pela alavancagem política que ela confere, podendo converter para a Classe A nos momentos em que precisar de liquidez.
Para garantir um free float mínimo em Nova York, a estrutura proposta exige que no mínimo 20% das ações atuais sejam convertidas em ações Classe A.