A Pilgrim’s Pride, a empresa de frangos da JBS nos EUA, acaba de botar um ovo de ouro.
Mas a médio prazo, a galinha pode ter problemas.
Ontem de manhã, a Pilgrim’s Pride — que no terceiro trimestre teve a melhor margem entre todos os negócios da JBS — surpreendeu o mercado anunciando que vai pagar a seus acionistas um dividendo extraordinário de 1,5 bilhão de dólares, o equivalente a 20% do valor de mercado da companhia.
Como a JBS é dona de 75% da empresa americana, isso significa que ela vai receber, em números brutos, 1,13 bilhão de dólares.
A Pilgrim’s tomou um empréstimo-ponte de 600 milhões de dólares com o Rabobank para fazer o cheque aos acionistas. Esse movimento — endividar a empresa para pagar dividendos — não só é comum no mundo das finanças corporativas como é frequentemente aconselhável, já que uma empresa gera um retorno maior trabalhando com algum nível de dívida, ainda mais nos EUA, onde é possível se endividar a juros civilizados.
Mas a estratégia expõe a Pilgrim’s Pride a um risco maior quando o chamado ‘ciclo da proteína’ se virar contra a empresa.
Hoje, o frango está com os preços mais altos em vários anos, beneficiando a Pilgrim’s Pride na veia. As ações da empresa dobraram de valor no ano passado, muito por este ‘frangonomics’, mas também pela boa gestão da JBS na empresa.
Mas quando o preço do frango cair, pode ficar mais difícil para a Pilgrim’s servir esta dívida.
Até agora, a Pilgrim’s tinha uma dívida líquida igual a zero. Em 2014, ela fez uma geração de caixa (EBITDA) de 1,3 bilhão de dólares, um número que os analistas estimam deve subir para 1,4 bilhão de dólares em 2015. Como a Pilgrim’s está pagando 1,5 bilhão em dividendos, a empresa está colocando no seu balanço uma dívida equivalente a um ano de geração de caixa — uma métrica razoável para quase todas as indústrias.
O problema é que, como toda commodity, o preço do frango oscila muito ao longo dos anos. “A Pilgrim’s Pride geralmente perde dinheiro quando o ciclo da proteína entra na fase de preços baixos, e inclusive já faliu por causa disso,” diz um analista. ”O que hoje parece um endividamento tranquilo pode se transformar em algo mais complicado quando o ciclo virar.”
Por enquanto, os acionistas da JBS só têm a celebrar. Apesar da empresa ter dito ontem que o dividendo será usado ‘para propósitos corporativos em geral,’ a JBS pode decidir usar este caixa para pagar a seus próprios acionistas um belo dividendo. Ou reduzir seu endividamento, que é de 2,6 vezes sua geração de caixa. De qualquer forma, os acionistas da JBS — BNDES incluído — tiveram uma semana ótima. Já os da Pilgrim precisam botar as barbas de molho.