A pandemia acaba de fazer sua primeira grande vítima no varejo.
A rede de vestuário J. Crew entrou hoje com um pedido de recuperação judicial depois de ver suas vendas secarem em meio ao fechamento de suas cerca de 500 lojas — e esmagada por uma dívida bilionária que remonta há quase dez anos.
Em março, as vendas de roupas e acessórios caíram mais de 50% nos Estados Unidos. Em abril, a expectativa é que os números tenham sido ainda piores.
Agora, a J. Crew vai converter mais de US$ 1,6 bilhão de dívidas em equity, dando o controle da empresa a seus principais credores — entre eles o Blackstone e o hedge fund Anchorage Capital.
Os credores, por sua vez, darão um financiamento de US$ 400 milhões que permitirá que a empresa mantenha suas operações durante o processo de reestruturação.
Segundo o The New York Times, a J. Crew passou as últimas duas semanas negociando o plano com os credores e o conselho tomou a decisão de entrar com o pedido de recuperação judicial ontem à noite.
A pandemia foi apenas a pá de cal para a J. Crew.
Há tempos, a empresa sofria com a queda nas vendas e o endividamento que surgiu em 2011. Na época, os fundos TPG e Leonard Green & Partners ajudaram a empresa a fechar seu capital na Bolsa por meio de uma aquisição alavancada.
Nos últimos anos, a empresa também sofreu baixas importantes na linha de frente: a chefe de design Jenna Lyons e o CEO Mickey Drexler, dois executivos que eram considerados a ‘alma’ da companhia, pediram demissão.
Antes da crise, o plano da J. Crew era quitar a dívida fazendo o spinoff da Madewell — sua marca voltada para o público ‘jovem’ e que responde por um terço das lojas — e abrindo seu capital. Mas o IPO foi atropelado pela pandemia.
No comunicado, a J. Crew disse que pretende manter a marca Madewell.
Fundada em 1947, a J. Crew nasceu como uma empresa familiar que vendia roupas femininas a preços populares através da marca Popular Club Plan. Foi só em 1983 que ela adotou o nome atual, depois de um rebranding completo e uma reinvenção de seu modelo de negócios.
Em 2008, a varejista ganhou os holofotes quando Michelle Obama apareceu num programa de televisão vestindo as roupas da marca e elogiando a qualidade dos produtos.
Três anos depois, a J. Crew rompeu outra barreira importante: tornou-se a primeira marca de roupas populares a ganhar um espaço nas passarelas do New York Fashion Week, um dos principais eventos de moda do mundo.
A J. Crew foi a primeira grande vítima da pandemia, mas não deve ser a última.
Outras duas grandes varejistas, a J.C. Penney e a Neiman Marcus (uma loja de departamento de produtos de luxo), estão com a corda no pescoço e sob forte pressão para entrar com o pedido de recuperação judicial.
Já a gigante de aluguel de carros Hertz tem até hoje para pagar US$ 500 milhões em dívidas ou obter um waiver, segundo o New York Post. Caso contrário, a empresa muito provavelmente terá que decretar falência.