A Arbor Capital — a gestora de ações do Leblon que investe majoritariamente no exterior — está apostando no setor hoteleiro, com posições em Hilton e Booking, e na estratégia de diversificação da Nasdaq, a segunda maior Bolsa do mundo.
Numa carta publicada ontem, a gestora detalhou sua tese para as três companhias, que respondem por 16% do portfólio do fundo e cujas posições foram montadas ao longo do ano passado.
As posições são as maiores do fundo junto com Brookfield (8%), Microsoft (9%), e Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) (9%).
A Arbor disse que a indústria hoteleira deve se beneficiar da ascensão da classe média global, da mudança de hábitos de consumo – com as pessoas preferindo gastar com experiências em vez de bens – e do trabalho híbrido/remoto, que permite viajar durante dias de trabalho.
A Arbor lembra que o Hilton é um dos maiores e mais antigos grupos hoteleiros do mundo, com presença em 124 países, 1 milhão de quartos em 7.400 propriedades, 22 marcas e um valor de mercado de US$ 50 bilhões. O papel negocia a 28x o lucro estimado para este ano, o que a Arbor considera “atrativo para a qualidade do negócio.”
Em 2007, o Blackstone comprou a empresa e migrou o negócio para um modelo de franquias, antes de levar a companhia de volta para a Bolsa em 2013. Hoje, 98% de todos os quartos do Hilton pertencem a franqueados.
Para a Arbor, o Hilton “é um dos melhores negócios que conhecemos, combinando um portfólio robusto de marcas com um modelo de negócios de royalties, com uma avenida de crescimento muito longa e sem a necessidade de empregar capital.”
Esta rara combinação se traduz em “uma trajetória de crescimento de receita previsível, margens operacionais que ultrapassam 80% e alta conversão de caixa destinada a retornar capital ao acionista.”
A companhia tem ainda um pipeline robusto de novos hotéis em construção, o que garante um crescimento contratado de quartos, e ainda se beneficiará de novas parcerias e da conversão de hotéis.
“Ao mesmo tempo, tanto a pandemia quanto os juros mais altos frearam o crescimento da oferta, formando um ambiente favorável para os preços das diárias e a retomada das taxas de ocupação.”
A gestora estima que o Hilton vai expandir seu número de quartos a uma taxa de 6% ao ano nos próximos anos. Somando isso à inflação das diárias, a gestora espera um crescimento de receita de 8% ao ano. “Com a contínua disciplina de custos e uma política sistemática de retornar capital (por meio de buybacks), estimamos que o lucro por ação crescerá 15% ao ano no período.”
Diferente de grandes grupos, como o próprio Hilton e a Marriott, que têm tráfego direto de hóspedes, mais de 75% do mercado hoteleiro global é pulverizado em pequenos operadores com baixo reconhecimento de marca.
E é aí que entra a Booking Holdings.
“Para um hóspede, o Booking resolve de forma simples e confiável um item crucial e um dos principais custos da sua viagem: a hospedagem. Para os hotéis – negócios de alto custo fixo, inventário (diárias) perecível e custo marginal baixíssimo – o Booking traz receita, reduz o atendimento ao cliente, e substitui despesas de marketing por uma comissão de cerca de 14% da reserva,” diz a carta.
Segundo a Arbor, desde que o CEO Glenn Fogel assumiu o comando em 2017, o Booking tem tido sucesso com duas estratégias: seu programa de fidelidade Genius e sua estratégia “Connected Trip”, que busca fazer a venda cruzada de serviços como passagens, aluguel de carro e táxi.
Outra frente importante de crescimento tem sido as hospedagens alternativas – um segmento concorrente do Airbnb que já responde por um terço das diárias do Booking e cresce a um ritmo mais acelerado que o próprio Airbnb.
A Arbor também diz que o principal concorrente do Booking — a Expedia — é “significativamente inferior em execução, como evidenciado pela perda constante de participação de mercado, contínua mudança de estratégia, rotatividade de CEOs e por gerar menos da metade do fluxo de caixa do Booking.”
A gestora estima que a receita do Booking vai crescer a uma taxa anualizada de 8% nos próximos cinco anos.
Já a tese da Nasdaq tem mais a ver com os novos negócios da empresa do que com suas Bolsas de Valores (além da própria Nasdaq, a empresa é dona de cinco Bolsas na América do Norte e sete na Europa).
A Arbor diz que, apesar de ter uma alta rentabilidade (margem operacional de 60% e baixo capital emprego), o segmento de bolsa de valores é muito competitivo e pró-cíclico.
Por conta disso, a Nasdaq vem diversificando seu negócio para segmentos mais resilientes. Hoje a receita de bolsa e negociação (market services) responde por apenas 26% do total, em comparação aos 70% de 15 anos atrás.
“A maior parte da receita, dos lucros, e do valor de perpetuidade da companhia residem no segmento ‘business solutions’, que engloba verticais com receitas majoritariamente recorrentes, como os negócios de índices e soluções contra crimes financeiros,” escreveu a gestora.
Esses dois segmentos tiveram um crescimento composto de 19% e 30% nos últimos cinco anos, respectivamente.
Em junho passado a Nasdaq fez a maior aquisição da sua história, comprando a Adenza por US$ 10,5 bilhões – uma aquisição que trouxe outra linha de negócios previsível, “com 80% da receita de fontes recorrentes amarradas a contratos com 3 a 5 anos de duração e histórico de retenção bruta de 98%,” diz a carta.
Apesar da mudança de seu mix de receitas, a Nasdaq ainda negocia a 20x lucro, um múltiplo semelhante ao dos outros players de Bolsa e um desconto de 32% para empresas de serviços financeiros, segundo a gestora.
Na carta, a Arbor também falou de sua tese para a Brookfield, que já foi objeto de discussão aqui.