Começando a construir sua fortaleza para atravessar a pandemia, o Itaú Unibanco fez a maior provisão entre os três grandes bancos privados, preparando-se para o impacto da crise sobre seu portfólio de crédito.
No primeiro trimestre, reportado agora à noite, o Itaú fez provisões adicionais (além das obrigatórias) de R$ 4,5 bilhões. Para efeito de comparação, o Bradesco provisionou R$ 2,76 bilhões adicionais, e o Santander, zero.
As provisões adicionais totais, que agora chegam a R$ 14,5 bilhões, elevaram a chamada ‘coverage ratio’ do Itaú — o saldo das provisões dividido pelo estoque de empréstimos vencidos há mais de 90 dias — de 2,3 vezes para 2,4 vezes.
No Bradesco, apesar das provisões o coverage ratio caiu de 2,2x para 2x. E no Santander, a razão caiu de 2,1x para 1,9x — gerando especulação no mercado de que o banco atendeu a um pedido da matriz para ser menos conservador, o que ajudaria o resultado consolidado do Santander global.
O Itaú — que tem R$ 100 bilhões emprestados a pequenas e médias empresas e outros R$ 120 bilhões nas mãos de grandes companhias — viu seu retorno patrimonial cair para 12,8% como resultado das provisões.
Para se entender o tamanho do estrago: os grandes bancos brasileiros historicamente operam com ROEs entre 20% e 25%. (Como o sellside não gosta de errar sozinho, o consenso do mercado ainda era de 22%, ainda que todo o mercado esperasse provisões robustos.)
Com as dimensões da crise ainda desconhecidas, gestores esperam que o Itaú continue a fazer provisões da mesma ordem de grandeza nos próximos trimestres, deixando o negócio pronto para mostrar crescimento de lucro a partir do ano que vem.
O Itaú tem uma carteira de pessoa física protegida, dominada por crédito consignado e imobiliário. Sua exposição ao cartão de crédito pode dar mais dor de cabeça, mas ainda assim não tende a ser letal.
“Já a carteira de PMEs pode ter um default de 20% fácil nessa crise, e no Itaú isso seria uma perda de R$ 20 bilhões,” diz o analista de uma gestora.
Ainda que a crise tenha eclodido perto do final do trimestre, a inadimplência já começou a botar as garras de fora.
No Bradesco, o diretor de relações com investidores, Carlos Firetti, disse que no primeiro trimestre o banco teve cerca de R$ 500 mi em inadimplência de grandes empresas, e outros R$ 300 milhões de PMEs.
“O cenário de crise que vamos viver tenderá a ser pior que o pico das últimas duas crises (2008 e 2016),” o CEO Octavio de Lazari disse aos analistas. “Nos próximos trimestres, o aumento das provisões tende a continuar.”
Este foi o primeiro trimestre em que o limite à taxa do cheque especial começou a aparecer nos bancos.
No Itaú, o teto custou ao banco R$ 600 milhões no trimestre, enquanto o investimento do banco na XP continuou a dar frutos: a linha “assessoria econômica, financeira e corretagem”, que consolida a receita da XP, subiu 150%.
Nos Estados Unidos e na Europa, os bancões também já começaram a provisionar para o corona.
Com base no que já foi reportado, o Financial Times calculou um aumento de mais de US$ 50 bilhões nas provisões no primeiro trimestre. Nos EUA, as provisões subiram 350% no período; na Europa, 269%.