O Itaú BBA acaba de lançar uma plataforma para a negociação de ações por seus clientes institucionais — uma ferramenta que vai permitir executar uma ordem sem impactar na formação de preços do mercado, bem como manter o sigilo das partes envolvidas.

A solução — que está sendo chamada de um ‘pool de liquidez’ — é semelhante aos ‘dark pools’ americanos, ambientes de negociação criados por grandes bancos ou players independentes e que já respondem por cerca de 40% de todo o volume transacionado no mercado de ações dos Estados Unidos. 

No Brasil, o modelo está começando a surgir agora, impulsionado em parte por uma mudança na regulação da CVM. O dark pool do Itaú, que vai se chamar Itaú BBA Cross, é um dos primeiros do mercado brasileiro. 

Pedro Nor, o head de institutional sales trading do Itaú BBA, disse ao Brazil Journal que a expectativa é que cerca de 5% de todo o volume anual da corretora feito via ordens diretas passe pela plataforma — o que representaria mais de R$ 20 bilhões por ano. 

“É uma plataforma para o institucional que quer fazer grandes volumes sem essa ordem impactar na formação de preços,” disse o executivo. “Ela também evita a canibalização dos fundos quantitativos. Quando esses algoritmos de high frequency vêem um fluxo alto de compra eles já começam a comprar agressivamente, fazendo o preço subir, o que prejudica o preço da operação. A plataforma evita isso.” 

Na prática, o Itaú está digitalizando um processo que já acontece de forma analógica nas mesas de operação. Quando um gestor quer fazer uma compra ou venda grande, ele liga para a mesa da corretora que vai procurar uma contraparte dentro do ecossistema do Itaú. 

Com a nova plataforma, o cliente poderá fazer a mesma coisa de forma digital — com a vantagem de não correr o risco de revelar sua operação no mercado. 

Apesar das negociações serem feitas dentro do dark pool, a nova ferramenta não vai gerar concorrência para a B3. 

“Embora as partes e contrapartes se encontrem na nossa plataforma, temos que seguir todo o caminho normal da B3. As ordens são registradas e liquidadas lá,” disse Fabio Bonomi, o CTO da corretora do Itaú.

Nos EUA é diferente. Já é permitido às corretoras internalizar as ordens, fazendo a liquidação das operações sem a necessidade de passar por nenhuma Bolsa, o que gera uma economia relevante de custos. 

“Pode ser que eles já estejam criando a infraestrutura para quando puder fazer a internalização eles já estarem preparados,” disse uma fonte do setor.

Hoje, a internalização das ordens ainda não é permitida no Brasil, mas a CVM já sinalizou que vai discutir o assunto. “O maior risco para a B3 é a regulação dessa internalização, mais do que o surgimento de outra Bolsa,” disse a fonte. 

A internalização eliminaria praticamente toda a receita de emolumentos das transações feitas nesses dark pools, já que hoje o clearing responde por 70% dessa receita e a negociação por 20%. Se a internalização fosse permitida, a B3 ficaria apenas com os 10% que é pago pelo uso de sua central depositária. 

O Itaú BBA Cross vai permitir ordens a partir de 10.000 ações, e o limite máximo será equivalente a 0,5% do capital da empresa, o número necessário para iniciar um leilão. 

Quando um cliente der uma ordem na plataforma, o Itaú terá que buscar uma contraparte dentro do seu ecossistema de clientes institucionais. Se encontrar, a ordem é fechada. 

Segundo Pedro, o Itaú não deve ganhar nenhuma receita adicional com a plataforma. A ideia é que ela gere um benefício indireto para o banco na medida em que vai fidelizar os clientes atuais e trazer novos para a corretora do banco.