Pai da ficção científica e apaixonado pela robótica, Isaac Asimov foi uma das mentes mais criativas do século XX.  

Ao morrer, em 1992, o escritor e bioquímico russo deixou um legado de mais de 500 livros de ficção e divulgação científica, além de quase 90 mil cartas sobre temas diversos. Sua obra mais célebre, “Eu, Robô,” foi adaptada ao cinema em 2004, no filme protagonizado por Will Smith. 

Há alguns anos, um velho amigo de Asimov descobriu entre seus guardados um pequeno artigo de 1959 em que Asimov tenta responder a pergunta: “Como as pessoas têm novas ideias?”  (O artigo foi publicado pela MIT Technology Review em 2014.)

Asimov trata do processo criativo, das dificuldades de se ter ideias realmente originais e dos traços comuns aos grandes pensadores. 

Segundo ele, o método de geração de novas ideias nunca é claro nem mesmo para os próprios ‘geradores’, mas alguns aspectos podem dar uma pista do processo.

 

E se a mesma ideia ocorresse para duas pessoas, de forma simultânea e independente?” questiona. “Talvez os fatores em comum dessem uma luz.” 

Abaixo, os insights do artigo “On Creativity”:

FAZER AS CONEXÕES

Asimov pegou o exemplo da Teoria da Origem das Espécies, que ocorreu a Charles Darwin e Alfred Wallace no mesmo período, e destrinchou o processo de descoberta.

Darwin e Wallace seguiram caminhos parecidos. Ambos viajaram para lugares distantes, onde observaram espécies estranhas de plantas e animais analisando a maneira como elas variavam em cada lugar. Depois, tentaram encontrar uma explicação para essa variação e falharam até lerem o ‘Ensaio Sobre O Princípio da População’, de Thomas Malthus.

Foi só quando perceberam como a noção de superpopulação e eliminação (que Malthus aplicava aos seres humanos) se encaixava na doutrina da evolução pela seleção natural que os dois gritaram “Eureka!”.

A conclusão de Asimov? 

Mais do que pessoas com um bom histórico num campo específico, para ter grandes ideias é necessário pessoas capazes de “fazer uma conexão entre os pontos 1 e 2, que podem não parecer conectados”. 

“Na primeira metade do século XIX, muitos naturalistas estudaram a maneira pela qual as espécies variavam. Muita gente leu Malthus. Alguns estudaram as espécies e leram Malthus. Mas foi preciso alguém que estudasse as espécies, lesse Malthus e tivesse a capacidade de estabelecer uma ‘conexão cruzada,’” escreve Asimov.

OUSADIA & AUTOCONFIANÇA

Fazer essas conexões, no entanto, não é uma tarefa fácil e requer uma dose do que ele descreve como “ousadia”. O escritor diz que as ‘conexões cruzadas’ que não requerem “ousadia” são feitas ao mesmo tempo por muitas pessoas e não resultam numa nova ideia, mas apenas numa visão diferente de uma ideia já conhecida.

Outra característica fundamental: a autoconfiança. 

Segundo ele, as novas ideias só parecem razoáveis anos depois, e num primeiro momento são vistas como absurdas: “Parecia o ápice da irracionalidade supor que a Terra fosse redonda ao invés de plana, ou que ela se movesse ao redor do sol.”

Por isso, para ter grandes ideias é preciso alguém com grande autoconfiança e capaz de se opor à razão, à autoridade e ao bom senso dominantes. 

Asimov também descreve os grandes pensadores como excêntricos. “Como as grandes ideias são raras, essas pessoas naturalmente vão parecer excêntricas (pelo menos nesse aspecto específico) para o restante de nós. Uma pessoa excêntrica em um aspecto em geral é excêntrica em outros.”

UM ATO SOLITÁRIO

No processo de geração de novas ideias, Asimov defende que o isolamento é absolutamente necessário. Ele diz que a pessoa criativa está constantemente trabalhando na sua ideia e sua mente está embaralhando suas informações o tempo todo, mesmo quando ele não está consciente disso. 

A presença de outras pessoas, portanto, pode acabar inibindo esse processo, já que a criação é um ato embaraçoso. “Para cada nova boa ideia, há centenas, milhares de outras ideias estúpidas, que naturalmente a pessoa não quer dividir com ninguém,” escreve Asimov.

Ainda assim, ele diz que estar junto com outras pessoas pode ser desejável por outras razões além do ato de criação  por exemplo, para debater novos fatos e teorias já conhecidas. 

Mas, para ele, não há dúvida de que a criação é um ato solitário.

SEM PRESSÃO 

Por fim, o escritor destaca que um dos fatores que mais inibe a criação de grandes ideias é o sentimento de responsabilidade e pressão.

“As grandes ideias da história vieram de pessoas que não eram pagas para ter grandes ideias, mas que eram pagas para dar aulas, ou que eram funcionários de patentes ou funcionários de segundo escalão… ou que não eram pagos para nada.”

“As grandes ideias surgiram como questões secundárias.”