O IPO da Pershing Square USA, um novo fundo fechado de Bill Ackman, foi adiado para “uma data a ser anunciada,” segundo o site da NYSE.
O mercado esperava que a oferta fosse precificada na próxima segunda-feira e que o papel já negociasse na terça – mas o processo como um todo foi conturbado.
Em um primeiro momento, Ackman esperava levantar US$ 25 bilhões – mas na quarta-feira, em uma carta a investidores, admitiu que reduziria o montante para algo entre US$ 2,5 bilhões e US$ 4 bilhões.
Na mesma carta, Ackman disse que alguns investidores se mostraram receosos em entrar em uma oferta de US$ 25 bilhões – o que rivalizaria com os maiores IPOs da história, como o da Saudi Aramco.
“O Bill Ackman quer ser o Warren Buffett, mas o Buffett aceita ficar rico devagar, e o Ackman tem pressa. Ele fica viciado na alavancagem dos clientes em vez de rentabilizar seu próprio capital, que, sozinho, faria dele um bilionário várias vezes quando chegasse aos 80 anos,” disse um investidor brasileiro que olhou a oferta.
Na prática, Ackman estava levando ao mercado um fundo fechado de capital permanente, mas estruturou o veículo como uma management company.
No fim de junho, a Pershing Square USA (PSUS) tinha US$ 18,7 bilhões em ativos sob gestão, sendo que US$ 15 bilhões são geridos pela Pershing Square Holdings (PSH), um fundo fechado listado na Europa.
No mês passado, a Pershing Square (a gestora) vendeu 10% de seu capital por US$ 1,05 bilhão a um consórcio de investidores, incluindo o BTG Pactual, numa rodada pré-IPO. O valuation foi considerado salgado quando comparado a gestoras como TPG e CVC Capital Partners, que foram para a Bolsa nos últimos dois anos.
O valuation também foi um fator no adiamento do IPO. Como a PSH negocia na Europa a um desconto de 20% sobre seu valor patrimonial líquido, os investidores temeram que a PSUS também fosse negociada com desconto em Nova York – e notaram que era mais vantagem replicar a carteira de Ackman comprando a PSH com desconto do que comprar a PSUS ao valor patrimonial líquido.
O IPO era visto como uma forma de alavancar a Pershing Square com os pequenos investidores.
Nos últimos anos, Ackman amealhou fãs nas redes sociais e hoje tem mais de 1 milhão de seguidores no X (ex-Twitter). Mas mais recentemente, o gestor entrou com tudo na discussão política. Ackman é hoje o crítico mais vocal das práticas de DEI (Diversity, Equity and Inclusion) nos EUA, foi instrumental em derrubar a reitora de Harvard depois que o campus da universidade se encheu de manifestações pró-Hamas, e há duas semanas declarou seu apoio a Donald Trump na eleição deste ano.
O gestor, inclusive, promoveu seus seguidores como um ativo importante. Durante o roadshow do IPO, disse que usaria suas redes sociais para discutir estratégias de investimento.
“Formei uma ampla base de seguidores institucionais e pequenos investidores que acompanham todos os nossos movimentos… O interesse da mídia é valioso para atrair o interesse do investidor e também criar liquidez para os nossos acionistas,” Ackman disse durante o roadshow, segundo o Financial Times.