Em processo de sondagem de investidores para seu IPO, a Iguá Saneamento não tem encontrado receptividade para o preço almejado na operação. Diante do impasse, são grandes as chances de que a oferta não siga em frente, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
Por um lado, os investidores não querem pagar na frente por reequilíbrios tarifários que ainda dependem dos órgãos reguladores locais.
Por outro, os controladores — a gestora IG4 Capital e os canadenses do Alberta Investment Management Corporation (AIMCo) — não topam a diluição que teriam de enfrentar no preço considerado aceitável neste momento pelos investidores.
“Para ficar caro, ainda precisaria de um desconto de uns 30%,” diz um gestor, juntando-se ao coro de uma série de investidores que alegam que o valuation pedido é excessivo.
A Iguá quer levantar R$ 1 bilhão a um valuation de cerca de R$ 4 bilhões, de acordo com investidores que estão participando das sondagens.
A companhia seria a primeira empresa privada de saneamento a fazer seu IPO.
Sua principal concessão é a de Cuiabá, que responde por mais de metade das receitas. A Iguá está pleiteando um aumento de 60% nas tarifas, depois de mudanças feitas no plano diretor da cidade, mas está embutindo no preço pedido no IPO “apenas” o equivalente a cerca de 40%.
“É muito difícil pensar que vai haver um reajuste dessa magnitude próximo de ano eleitoral”, pondera um investidor. “E o valuation que eles estão pedindo precifica tudo quase à perfeição e mais um crescimento via novas oportunidades de concessão”.
Antiga CAB Ambiental, a companhia foi adquirida do grupo Galvão Energia em 2017 pela IG4 Capital. A IG4 controla um fundo de investimento em participações (FIP) que tem 90% da companhia e tem os canadenses do AIMCo como um dos principais acionistas depois de um aporte de R$ 400 milhões feito há um ano.
Na entrada do AIMCo, o valuation foi de R$ 1,2 bilhão, menos de um terço do valor pretendido para a estreia em Bolsa.
Outros 10% estão na mãos do BNDESPar — e ainda não está claro se o banco seria vendedor na oferta. O prospecto fala em acionista vendedor e deixa claro que não trata dos FIPs geridos pelo IG4, mas durante as sondagens a empresa não cravou que o banco seria vendedor.
Terceira maior empresa privada de saneamento do Brasil, a Iguá tem 14 concessões e quatro PPPs de saneamento, distribuídas em 37 cidades, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Alagoas. Ao todo, atende cerca de 7 milhões de usuários.
O modelo da Iguá é diferente das empresas estatais de saneamento.
Enquanto as estatais são remuneradas a partir de sua base de ativos, a Iguá tem concessões que se baseiam num modelo mais parecido com o de rodovias.
Com leilões baseados em menor tarifa ou no maior valor pago ao poder concedente, a companhia tem mais flexibilidade de fluxo de caixa, tarifas ajustadas pela inflação e incorpora ganhos de eficiência, que não necessariamente precisam ser repassados ao consumidor. Além disso, tem direito a reequilíbrios econômicos, como é o caso em Cuiabá.
“Mas ela ainda está sujeita a ingerência de uma série de poderes concedentes, de Estados a prefeituras”, aponta um investidor.