O Nubank vai estrear valendo US$ 41,5 bilhões na Bolsa de Nova York, num IPO que faz dele o banco mais valioso da América Latina.
A ação saiu a US$ 9 – o topo da faixa indicativa de preço, que sofreu um corte de 20% semana passada. Nas primeiras conversas sobre o IPO, o Nubank buscava um valuation de US$ 75 bilhões a US$ 100 bi.
O banco levantou US$ 2,8 bilhões na oferta, incluindo o greenshoe.
O IPO – que vem num momento de correção das fintechs em todo o mundo – saiu depois que alguns investidores de venture capital do Nubank reforçaram o book, com ordens que chegaram a US$ 1,2 bilhão.
Apesar de ter tido que reduzir sua ambição de preço, o Nubank, que ainda dá prejuízo, vai estrear valendo mais que o Itaú (US$ 37,8 bilhões) e o Bradesco (US$ 33,5 bilhões) – bancos que reportam lucros anuais ao redor de R$ 27 bilhões cada.
A demanda por parte de investidores locais foi ínfima – com apenas dez gestoras fazendo reservas – e o deal foi dominado por investidores globais, particularmente fundos de tecnologia.
Excluindo os âncoras (atuais acionistas), a demanda estava próxima a 10x book, segundo fontes envolvidas na oferta.
Cerca de 45% da operação estava ancorada por um grupo de investidores incluindo a Sequoia Capital — onde o fundador David Vélez trabalhava antes de criar o Nubank — Tiger Global, Softbank, Dragoneer, TCV, Baillie Gifford, Sands Capital, Counterpoint Global (Morgan Stanley lnvestment Management ) e JP Morgan.
Curiosamente, nenhum dos âncoras está sujeito a lockup.
O Nubank surgiu em 2013 com a missão declarada de incluir no sistema financeiro pessoas que não estavam sendo atendidas pelos grandes bancos. O banco atraiu clientes com um cartão de crédito sem anualidade, um marketing assertivo junto aos millennials e o benefício de uma regulação leve que busca estimular o surgimento de fintechs.
O banco vai usar os recursos do IPO para reforçar seu capital de giro e fazer aquisições.
O plano é acelerar a expansão pela América Latina, onde o banco já iniciou operações no México e na Colômbia. Em setembro, o Nubank tinha 48,1 milhões de clientes (17% a mais do que em junho), e 98% deles estavam no Brasil. Do total de clientes, 73% são classificados como ‘ativos’ – aqueles que geraram alguma receita nos últimos 30 dias.
O Nubank disse aos investidores que vai se transformar na maior fintech da América Latina, crescendo a base de clientes e aumentando a oferta de produtos.
O investidor local achou o IPO “caro demais.”
“O Nubank é um case fantástico de construção de marca. Eles conseguiram atingir uma diversidade geográfica incrível e de forma orgânica. Mas nesse preço do IPO, se tudo der muito certo, o investidor terá um retorno bom, mas não espetacular,” disse um gestor.
Outros gestores acham que a rentabilidade do banco vai ser afetada pelo perfil de renda dos clientes. Um deles estima que o gasto médio do cartão seria em torno de R$ 400, e que o cliente do Nubank não estaria tão propenso a consumir novos produtos. Mais de 70% dos clientes têm menos de 40 anos de idade.
Na tarde de hoje, Paulo Passoni, um executivo do Softbank Latin America, disse que vê o Nubank chegando a 100 milhões de clientes e US$ 200 bilhões de valor de mercado em cinco anos — mais do que os todos os maiores bancos privados do País somados. O Softbank — que já é dono de 15% do Inter — comprou uma posição no Nubank no IPO.
“Talvez o gringo entenda de empresas que crescem exponencialmente e o brasileiro esteja primitivo”, diz um gestor. “Ou… talvez a análise top down que eles fazem não pondera os riscos de execução de uma empresa que precisa crescer permanentemente, e aí eles vão colher decepções.”
Se o plano é ser a maior fintech do mundo, dizem analistas, isso vai significar logo logo um aumento na regulação do negócio – já em discussão no Banco Central do Brasil.
“Apesar de ter todo um contexto político/concorrencial entre grandes bancos e novos entrantes, de fato existe um risco sistêmico à medida que as carteiras das fintechs vão ficando maiores e sem a mesma exigência de capital,” diz um gestor, para quem a expansão do crédito também é um fator de atenção, vide a derrapada da Stone.
O Nubank foi criado pelo empresário colombiano David Vélez, pela brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible.
Vélez é a figura principal, já que, depois do IPO, terá 75% do poder de voto e 23% do capital total. Edward terá 2,11% do capital total e Cristina, 2,94%.
O ‘Nu’ construiu um dos storytellings mais poderosos da indústria de venture capital brasileira, senão mundial.
Vélez teve a ideia de montar o banco quando precisou abrir uma conta no Brasil e a experiência se revelou um pesadelo. No prospecto da oferta, a empresa diz querer ser “amada fanaticamente” por seus clientes – um sentimento que o brasileiro não nutre pelos grandes bancos.
Só nos últimos seis meses que antecederam o IPO, o Nubank trouxe um investimento de Warren Buffett, colocou Anitta no conselho, Vélez assinou o The Giving Pledge e o banco conseguiu headlines falando de um “primeiro lucro”.
Mas o Nubank ainda opera no vermelho. Neste ano até setembro, o prejuízo foi de R$ 528 milhões (US$ 99 milhões), 61,3% maior do que no mesmo período de 2020.
O lucro das manchetes se referia à operação no Brasil no primeiro semestre, que ficou no azul em R$ 76 milhões.