Os números da inflação americana divulgados hoje cedo vieram acima do previsto – contrariando a expectativa de boa parte do mercado de que o pior já tinha ficado para trás.

O resultado disso é que os juros poderão continuar subindo por mais tempo, o que deve afetar o mercado de ações. As Bolsas americanas abriram em queda e arrastaram os mercados europeus e o Ibovespa. 

Apesar da moderação em alguns itens como a gasolina, a inflação ao consumidor (CPI) ficou em 8,3% nos doze meses encerrados em agosto. O consenso dos analistas era de 8,1%.

O atual ritmo inflacionário é 4 vezes a meta de inflação perseguida pelo Fed, de 2% ao ano. 

O núcleo dos preços (excluindo energia e alimentos, que são itens mais voláteis) registrou aumento de 6,3%, também acima do esperado. O resultado de agosto também mostrou uma aceleração ante junho e julho, quando a variação havia ficado em 5,9%. 

Os preços dos combustíveis tiveram uma forte queda, um reflexo do recuo nas cotações do petróleo. Mas despesas como aluguel e serviços médicos continuaram a pressionar fortemente o custo de vida dos americanos. 

Diante desses dados, é praticamente certo que o Federal Reserve, o Banco Central americano, fará um novo aperto de 0,75 ponto percentual na taxa de juros em sua reunião da semana que vem. 

Para piorar: os preços dos serviços, que se mantiveram em alta, indicam que a inflação é mais resistente do que o esperado – o que poderá fazer com que os juros subam para além do que já está precificado nos mercados. 

No meio da tarde, a Nomura alterou suas estimativas de alta para a Fed Funds para 100 pontos-base na próxima reunião, e mais 50 pontos-base em novembro e em dezembro.  (O consenso do mercado até ontem era 0,75, 0,50 e 0,25.)

O copo meio cheio: a inflação de serviços elevada reflete uma economia ainda aquecida. Muitos bancos de Wall Street que esperavam uma queda do PIB no final do ano já jogaram essa possibilidade para 2023. 

Alguns analistas ainda acreditam que os Estados Unidos e a economia global escaparão de uma recessão mais profunda – o hard landing – e terão um pouso suave

Marko Kolanovic e Nikolaos Panigirtzoglou, estrategistas do JP Morgan, acham que os dados mais recentes das principais economias do mundo mostram um declínio das pressões inflacionárias e dos salários. 

A melhora na confiança dos consumidores e das empresas também deverá estimular o crescimento e evitar que o cenário recessivo se materialize. Isso  deverá favorecer as ações que acompanham o ciclo econômico e as small caps, além de papéis de emergentes e da China. 

Os analistas veem o pessimismo excessivo por parte dos investidores como uma oportunidade de compra. “Para os ativos de risco, os dados econômicos são mais importantes do que o discurso dos bancos centrais,” dizem. 

“O Fed provavelmente vai pivotar, o que é algo positivo para as ações cíclicas. Os ventos de cauda são favoráveis para os ativos de risco, apesar da retórica mais hawkish dos bancos centrais.”