Cresce no mercado a convicção de que o câmbio está próximo de mais uma ‘pernada’ de desvalorização — a menos que o Banco Central suba a taxa de juros.

A tentativa do BC de oferecer hedge por meio da venda de swaps cambiais não conseguiu tirar o dólar dos R$ 3,70.
 
10437 23a19666 cf4e 0000 0040 7381c77ffb59Ao final desta sexta, o BC já terá queimado US$ 20 bilhões em swaps no que muitos investidores vêem como uma tentativa inútil de defender o real em meio a um movimento inevitável de valorização do dólar contra todas as moedas.
 
O DXY — índice que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas — terminou o dia a 94.87, um peteleco de distância de romper dois desvios-padrão de sua média móvel de 200 dias.  Traduzindo:  graficamente, o dólar está sobrevalorizado no curtíssimo prazo, mas uma ruptura deste nível técnico caracterizará uma mudança de tendência, levando a moeda americana a se fortalecer muito mais do que o sugerido pelos modelos.
 
Neste cenário, o BC está entre duas opções ruins:  ou continua oferecendo swaps — correndo o risco de não ver nada acontecer — ou sobe a taxa de juros para fortalecer o real.
 
“O melhor amigo do BC neste momento é o exportador brasileiro, que precisa ser convencido a fechar seus adiantamentos de contrato de câmbio para aumentar a oferta de dólar.  Mas com o dólar forte e a Selic travada em 6,5%, por que alguém vai se apressar?” pergunta um investidor.
 
Diz outro gestor, que opera mercados globais: “Quem está engolindo esses swaps são os fundos macro globais, que estão arbitrando a taxa de câmbio aqui: comprando esse hedge oferecido pelo BC e esperando ele ter que jogar a toalha.  Quanto mais hedge ele dá, mais esses fundos aumentam suas posições, e eles operam alavancados 10 vezes.”
 
Piorando as coisas, o presidente do BC disse na semana passada que não usaria a Selic como ferramenta para domar o câmbio.  Agora, uma mudança de atitude enfraqueceria a credibilidade da autoridade monetária, que já fizera uma meia-volta na sua sinalização de que continuaria cortando a Selic antes do último Copom.
 
Mas para alguns setores do mercado, o BC deveria perder os pruridos, porque a greve dos caminhoneiros, a incerteza eleitoral e o aumento do dólar no mundo já pioraram as expectativa de inflação colocando o BC, efetivamente, atrás da curva.
 
O mercado já trabalha com um juro mais alto:  o DI de janeiro de 2019 fechou hoje em 7,6% — uma alta de 34 pontos-base em relação ao dia anterior, um deslocamento cavalar para um juro tão curto.
 
Num relatório de ontem, o Bradesco disse que “caso o choque [do câmbio] se mantenha na atual magnitude, e o repasse [passthrough] migre para mais próximo da média histórica”, o banco terá que aumentar sua estimativa de inflação entre 30 e 50 pontos-base para este ano. Hoje, o banco já estima inflação de 3,9% em 2018 e 4,25% em 2019.
 
Levantando o capô da inflação, observa-se uma divergência: os preços no atacado se aceleraram recentemente (mesmo antes da última pernada de desvalorização cambial) sem que os preços ao consumidor tenham se mexido.  Em outras palavras: as margens de lucro das empresas estão sofrendo um arrocho.
 
“Para segurar os preços no atacado e evitar o contágio nos preços, o BC está tentando segurar o dólar, mas com isso ele está desarbitrando todo o mercado. Uma taxa de 6,5% aqui e um juro de 3% nos EUA não paga o risco de estar investido no Real,” diz um trader. “O BC está compartimentalizando as coisas, achando que uma coisa é meta de inflação e outra coisa é o câmbio. Mas quando ele compartimentaliza, ele se limita — e o mercado joga contra essa limitação.”
 
A diminuição da liquidez internacional — cantada em prosa e verso há anos — começou a se materializar nas últimas 48 horas. Na quarta, o Fed subiu o juro básico e disse que aumentaria a taxa num total de quatro vezes este ano, em vez das três esperadas.  Nesta quinta, o Banco Central Europeu mostrou como planeja acabar com seu programa de recompra de títulos, que injetou cerca de US$ 3 trilhões na economia global desde a crise de 2008.
 
A abertura pronunciada das taxas no mercado de juros — os contratos longos, na média, abriram 50 pontos-base só hoje — chegou a gerar especulações sobre zeragens forçadas de posição em alguns fundos.