Daron Acemoglu, o professor do MIT mais conhecido pelo livro Why Nations Fail, acha que o impacto da inteligência artificial na produtividade – e portanto no crescimento econômico – deve ser bem mais modesto do que os entusiastas da tecnologia estão projetando.

Daron Acemoglu

Em um paper recém-publicado, Acemoglu estima que o impacto da IA na produtividade total dos fatores – o indicador que avalia os ganhos de eficiência da economia – não deverá chegar a 1% ao longo da próxima década nos EUA.

Mais precisamente, Acemoglu estima que o ganho acumulado na década poderá ser de 0,66%, mas mesmo este número pode estar “exagerado” porque as primeiras evidências mostram uma contribuição mais relevante da IA em tarefas fáceis de serem aprendidas – e o impacto sobre tarefas mais complexas deverá ser sentido apenas no futuro.

“A IA pode automatizar apenas cerca de 5% das tarefas de um escritório,” o economista disse ao New York Times.

Por isso, Acemoglu avalia que a IA deverá ter um impacto inicial modesto no desafio de superar a estagnação da produtividade nos países avançados.

“A IA tem muito mais a oferecer para ajudar no problema da baixa produtividade,” comentou ele. “Mas não será com a sua atual trajetória, por isso o hype me preocupa.”

Para o economista, as ferramentas de inteligência artificial teriam um efeito mais relevante caso ajudassem os trabalhadores a serem “melhores em resolver problemas ou assumissem tarefas mais complexas.” Isso liberaria as pessoas para se dedicar a questões mais elaboradas, como a criação de novos produtos ou estratégias.

Por enquanto, porém, a IA deve essencialmente auxiliar em funções mais simples, como escrever e-mails ou preparar relatórios e apresentações.

Acemoglu é o coautor do livro Poder e Progresso – Uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade, escrito a quatro mãos com Simon Johnson, seu colega no MIT.

Em uma entrevista recente ao Brazil Journal, Johnson comentou que a inteligência artificial poderá dar uma maior contribuição para a economia e a sociedade caso seja utilizada para potencializar os trabalhadores – em vez de substituí-los. Um dos riscos será o aumento da desigualdade.

“Seria preferível usar as novas tecnologias para ajudar as pessoas a desenvolverem suas habilidades,” disse Johnson. “Isso ajudaria a elevar a maré para todos, e não para um pequeno grupo de pessoas.

O NYT buscou opiniões de estudiosos que possuem uma visão mais otimista em relação ao potencial da nova tecnologia.

“Muito do benefício da IA virá da eliminação das empresas menos produtivas,” disse Tyler Cowen, professor da George Mason University, um estudioso da produtividade e autor do blog Marginal Revolution.

Lynda Gratton, uma professora da London Business School que presta consultoria para a adoção de IA por empresas, disse ao NYT que é otimista com a tecnologia, mas ainda é cedo para avaliar.

As companhias já estão realizando experimentos com IA para reduzir custos e ineficiência, “mas se uma empresa quiser usar a tecnologia para crescer, precisará de ferramentas para inovar,” Lynda disse ao jornal.

Uma reportagem publicada pela Bloomberg semana passada afirma que os chatbots da OpenAI estariam próximos de alcançar o nível do “raciocínio” semelhante ao humano.

Segundo um documento interno da startup, há cinco níveis de IA. O primeiro é o de chatbots com habilidade conversacional. O estágio 2, o próximo a ser dominado, é o de raciocínio.

O nível 3 são dos ‘agentes’ – sistemas capazes de tomar decisões e realizar ações.

Na sequência viriam os ‘inovadores,’ que poderão ajudar de fato na criação autônoma de coisas realmente novas. No estágio 5, as IA de ‘organização’ poderão sozinhas cuidar da administração operacional de uma companhia.

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