A Humanigen, uma empresa de biotecnologia da Califórnia, anunciou hoje que obteve sucesso inicial num teste com o lenzilumab, um anticorpo monoclonal que pode ajudar a combater inflamações sofridas por pacientes com casos agudos de covid-19.

A companhia está interessada em trazer seu teste clínico de Fase 3 — a última antes da aprovação regulatória — para o Brasil, que nas últimas semanas se tornou o epicentro da covid-19, e já contratou a CTI Clinical Trial & Consulting Services para conduzir os testes no País, o CEO Cameron Durrant disse ao Brazil Journal.

O sucesso do tratamento ajudaria a reduzir o tempo de internação e a mortalidade da doença. A Fase 3 já começou nos EUA, com pacientes em hospitais de Dartmouth e nos três centros da Mayo Clinic, na Florida, Arizona e Minnesota.

Em vez de tentar desenvolver um antiviral, empresas como a Humanigen estão tentando tratar as consequências da infecção pelo coronavírus. Por isso, toda a linha de pesquisa da companhia está voltada para combater inflamações conhecidas como “tempestade de citocinas” (cytokine storm) — uma superreação imunológica comum em pacientes com covid (a citocina é um tipo de célula branca).

Muitos médicos consideram já haver evidência suficiente para concluir que o coronavírus é mais do que apenas uma infecção pulmonar; em muitos casos, a reação do sistema imunológico pode ser a principal causa mortis

“O normal é que o sistema imunológico pise no acelerador mas em seguida pise no freio,” o Dr. Durrant disse ao Brazil Journal. “Na covid, o pé fica atolado no acelerador: o sistema imunológico fica super estimulado e não para. Isso leva a inflamações imensas principalmente nos pulmões, mas também já vimos casos em que isso acontece no coração e no cérebro.”

Na manhã de hoje, a Humanigen publicou um paper relatando os resultados do primeiro teste do lenzilumab em 12 pacientes com covid-19 internados na Mayo Clinic, um hospital de excelência. (O lenzilumab foi administrado como ‘compassionate use’, e não como parte da Fase 3 — daí os dados estarem sendo publicados.)

“Os pacientes apresentaram melhora clínica rápida, com tempo mediano de recuperação de cinco dias, tempo mediano para alta de cinco dias e sobrevida de 100% até a data de corte dos dados,” a companhia disse hoje de manhã. “Os pacientes também demonstraram rápida melhora na oxigenação, temperatura, citocinas inflamatórias e parâmetros hematológicos essenciais, consistentes com os melhores resultados clínicos.”

Um dos principais autores do estudo, Zelalem Temesgen, professor de medicina da Mayo Clinic, disse que “o uso de lenzilumab foi associado a melhores resultados clínicos e necessidade de oxigênio, sem mortalidade relatada. Não observamos nenhum evento adverso relacionado ao tratamento, que foi bem tolerado.”   Ele disse que “o lenzilumab pode oferecer uma abordagem racional para melhorar as consequências da tempestade de citocinas na covid-19.”

Durrant disse que “todos os 12 pacientes apresentavam pelo menos um fator de risco associado a desfechos desfavoráveis, como idade, histórico de tabagismo, doença cardiovascular, diabetes, doença renal crônica, doença pulmonar crônica, IMC alto e marcadores inflamatórios elevados, com vários pacientes apresentando múltiplos fatores de risco.”

Fundada em 2000 como KaloBios Pharmaceuticals, a Humanigen já teve altos e baixos.

Cinco anos atrás, um personagem nefasto chamado Martin Shkreli comprou uma participação na empresa e foi CEO por pouco tempo.

Shkreli era dono de vários fundos de investimento especializados em biotecnologia. Quando era investidor e CEO de uma farmacêutica chamada Turing, Shkreli comprou a licença de manufatura do Daraprim, uma droga antiparasitário, e aumentou o preço de US$13.5 para US$ 750 por comprimido.  Este exercício de ganância lhe rendeu epítetos carinhosos, tais como “o homem mais odiado da América.”

Shkreli hoje serve uma pena de sete anos numa penitenciária por fraude no mercado de capitais, num episódio que nada tem a ver com a Humanigen.

Mas a companhia sofreu e foi forçada a pedir concordata, da qual saiu em junho de 2016. No ano seguinte, outro golpe: a FDA não aprovou um tratamento que a empresa desenvolvera para doença de Chagas.
 
Desde que se tornou CEO em março de 2016, o Dr. Durrant tem focado a companhia no desenvolvimento do lenzilumab.  Durrant já foi CEO de três empresas farmacêuticas de nicho e ocupou posições sêniores na Pharmacia Corp, hoje parte da Pfizer, e na Johnson & Johnson.

As ações da Humanigen são negociadas no mercado de balcão nos EUA.  De 28 de maio até sexta-feira, a ação subiu de US$ 0,90 para US$ 4, dando à companhia um valor de mercado de US$ 850 milhões.  Com a notícia de hoje, o papel sobe 50% para US$ 6,10.