Buscando reenergizar seu negócio no Brasil, o grupo McCann acaba de contratar Hugo Rodrigues como seu novo chairman e CEO, num dos movimentos mais importantes do mercado publicitário nos últimos anos.
Um aclamado publicitário que liderou a Publicis nos últimos três anos, Hugo transformou a agência do grupo francês na terceira maior do país, crescendo apesar da crise e conquistando contas-mamute como Bradesco, Carrefour e Heineken.
A troca de casa colocará Rodrigues numa posição curiosa: deixar de atender clientes que havia acabado de ganhar justamente da agência que está assumindo, como Bradesco, que saiu da WMcCann para a Publicis em fevereiro deste ano.
Nos próximos dias, o esporte predileto do mercado publicitário será especular: ‘quais contas vão acompanhá-lo?’
O anúncio acontece dias depois da McCann anunciar a despedida de Washington Olivetto, um dos gênios criativos mais premiados da publicidade brasileira. Olivetto, o “W” da WMcCann, subsidiária brasileira do grupo norte-americano, despediu-se não só do cargo de chairman da agência criada a partir da fusão da W/ com a McCann, como também do Brasil: foi morar em Londres.
As negociações da McCann com Hugo foram noticiadas em primeira mão pelo Meio & Mensagem, a bíblia do mercado publicitário.
Ao substituir Olivetto por Rodrigues, o grupo McCann buscou não apenas uma grife, mas um ‘criativo’ com estofo e punch para recuperar o brilho da subsidiária brasileira, que era líder de mercado nos anos 90.
Dono de uma enorme cabeleira armada, Rodrigues tem 47 anos e é um dos criativos mais badalados da nova geração. Está há 18 anos na Publicis e há três como presidente. Neste período, fez a Publicis saltar da 9ª para a terceira posição no ranking das maiores agências do País.
Além de conquistar novas contas, sob o comando de Rodrigues a Publicis ganhou uma nova sede no Itaim e passou a ter uma gestão mais profissionalizada, com conselho e vice-presidências.
Rodrigues nasceu em Santos e começou a carreira vendendo sacos de lixo e produtos de limpeza. Desistiu da faculdade de engenharia e foi estudar marketing após ler uma entrevista de Olivetto na Playboy. Tomou gosto pelo estilo de vida ‘bon vivant’ do publicitário-celebridade e achou que seria divertido ganhar a vida escrevendo e despertando o entusiasmo das pessoas pelas marcas.
Há cinco anos, a McCann já havia tentado atrair Rodrigues. Desta vez, as conversas avançaram.
Desconfortável com o vazamento da notícia da negociação, a Publicis foi rápida em anunciar, na sexta-feira, Miriam Shirley e Eduardo Lorenzi, até então vice-presidentes de mídia e planejamento, como os novos co-presidentes da agência. Mas o cargo de um criativo líder segue vago.
A WMcCann surgiu em 2010, como resultado da fusão da W/ (ex-W/Brasil, de Olivetto, eternizada na música de Jorge Benjor) com a McCann-Erickson. Foi uma primeira tentativa de recuperar a glória do passado. A McCann-Erickson ocupava a 11ª posição no ranking do Ibope Monitor e a W/, a 43ª. Juntas subiram para o 5º lugar. Passados sete anos, porém, a agência retrocedeu cinco posições.
A união das duas agências não foi suficiente para manter um dos clientes mais emblemáticos da carreira de Olivetto, a Bombril — hoje uma conta da Africa, de Nizan Guanaes. A perda recente da conta do Bradesco, somada à drástica redução de investimentos de um importante cliente, a Seara, do grupo JBS, drenou ainda mais as receitas. Na nova casa, Rodrigues vai assumir as contas da Coca-Cola, GM, LATAM Airlines, L’Oréal, Mastercard e TIM.
Criador de ícones como o Garoto Bombril e de campanhas que marcaram época como ‘O Primeiro Sutiã a gente nunca esquece’, Olivetto vivia há meses entre São Paulo e Londres; agora, vai se mudar de vez para a capital britânica, de onde atuará como consultor do Interpublic, um dos cinco maiores conglomerados de publicidade do mundo e controlador da McCann.
O grupo disse num comunicado que, apesar da saída de Olivetto, o W segue a frente do nome da agência. Será que um dia vai virar HMcCann?