Em 1979, dois reatores da usina de Three Mile Island, na Pensilvânia, tiveram um derretimento parcial. Foi o pior acidente nuclear do tipo nos EUA.
Por anos, a usina continuou operando apenas com um dos reatores, que acabou sendo desligado há cinco anos por razões econômicas.
Agora, contudo, a usina deve ganhar vida nova – graças à inteligência artificial.
Em um contrato firmado com a Microsoft, a Constellation Energy, a maior operadora americana de usinas nucleares, vai investir US$ 1,6 bilhão para reformar o reator fechado recentemente. Se receber o aval das autoridades regulatórias, a usina deverá ser religada em 2028.
A Microsoft se comprometeu a absorver toda a energia produzida durante os próximos 20 anos. O destino: seus data centers de IA.
“É muito simbólico,” o CEO da Costellation, Joseph Dominguez, disse ao New York Times. “É onde houve a maior falha da indústria nuclear, e agora poderá ser o lugar de seu renascimento.”
O reator terá uma capacidade de 835 megawatts, o suficiente para abastecer 700 mil residências.
As nucleares trazem a vantagem adicional de operarem continuamente 24 horas por dia, sete dias por semana, ao contrário de fontes renováveis como a eólica e a solar.
As usinas nucleares, que já haviam sido ‘absolvidas’ pelos ambientalistas, agora estão atraindo interesse renovado por causa da alta demanda dos clusters de data centers de IA.
Sem a energia atômica as grandes empresas de tecnologia dificilmente conseguirão alcançar suas metas de carbono zero.
Em mais um sinal dessa grande demanda por energia nuclear, um grupo de alguns dos maiores bancos do mundo anunciou hoje a decisão de ampliar o financiamento e contribuir para a meta de triplicar o uso de energia atômica até 2050, como definido na COP 28, em Dubai.
A iniciativa – anunciada durante a New York Climate Week – teve o apoio dos seguintes bancos: Abu Dhabi Commercial Bank, Ares Management, Bank of America, Barclays, BNP Paribas, Brookfield, Citi, Credit Agricole CIB, Goldman Sachs, Guggenheim Securities, Morgan Stanley, Rothschild & Co, Segra Capital Management e Société Générale.
No evento, John Podesta, o negociador da Casa Branca para questões do clima, disse que “energia nuclear é energia limpa – e se quisermos ter um planeta habitável e com cadeias de suprimento sustentáveis, precisaremos da energia nuclear.”
De acordo com o Financial Times, algumas instituições financeiras preferiam ficar de fora desses projetos por conta dos riscos e de suas complexidades.
Mas a aversão não é mais como no passado – até porque os acidentes são relativamente raros.
A maior tragédia nuclear da história foi a explosão de Chernobyl, na Ucrânia sob o regime soviético, em 1986. Mais de 30 pessoas morreram nas primeiras horas e milhares nos anos seguintes por causa da contaminação.
O outro grande desastre foi o de Fukushima, em 2011, causado por um terremoto. Houve cerca de 20 pessoas feridas e alguns casos suspeitos de câncer causados pela radiação.
No desastre de Three Mile Island, em 1979, falhas no sistema de segurança paralisaram uma bomba de água. Houve vazamento de gases com alto grau de radiação.
Mas a população local foi pouco afetada. Estudos sobre um eventual aumento expressivo na incidência de casos de câncer não chegaram a um consenso.