O laboratório Hermes Pardini precificou hoje à noite sua oferta inicial de ações perto do ponto mais baixo da faixa de preço, dando saída à Gávea Investimentos depois de cinco anos como investidor de private equity e se tornando o quarto laboratório a ser listado na Bovespa.

O Gávea e a companhia venderam as ações a R$19, comparado a uma faixa de preço pretendida de R$18,71 a R$22,71, dando à empresa um valor de mercado de R$ 2,4 bilhões e um free float de 36%.

Horas antes do fim do bookbuilding, a oferta estava 3 vezes coberta — mas no preço mais baixo da faixa, com o Gávea insistindo em vender a pelo menos R$20.  O choro não funcionou, e o máximo que o vendedor conseguiu foi uma arredondada para cima, com o papel saindo nos R$19.

Neste nível, a ação saiu a 16,5 vezes o lucro estimado para este ano, um desconto de cerca de 15% em relação ao Fleury.

Num processo marcado pelo baixo interesse internacional, cerca de 75% das ordens vieram de investidores locais.

O Gávea vendeu 36,4 milhões de ações e a companhia, que já tem pelo menos uma aquisição no horizonte, levantou recursos vendendo 9,8 milhões de ações. 

O sucesso da operação se deveu, em parte, porque o emissor e seus bancos não repetiram o erro do IPO da Alliar, no qual os vendedores forçaram a barra para que a empresa fosse avaliada ao mesmo múltiplo do Fleury e o papel saiu caro demais, gerando um price action tenebroso nos dias seguintes. Resultado: a ação negocia hoje 35% abaixo do IPO.
O Hermes Pardini é o laboratório brasileiro mais focado em processar análises clínicas para laboratórios menores.  A atividade, conhecida como ‘lab-to-lab‘, é responsável por 55% do faturamento do HP e 80% de seu lucro operacional.  Para efeito de comparação, o lab-to-lab do Pardini é quase do mesmo tamanho do lab-to-lab da Dasa, onde, no entanto, essa atividade representa apenas 10% do faturamento da empresa.

Neste modelo, ter escala faz toda diferença.  Cerca de 90% dos exames laboratoriais que chegam ao Pardini são processados em sua ‘fábrica’ em Vespasiano, perto do aeroporto de Confins.

Nos últimos anos o Hermes Pardini, que já foi cobiçado pela Dasa e pelas melhores casas do ramo, foi vitimado por uma briga entre os três irmãos que controlam o laboratório. (O patriarca, Hermes Pardini, é octogenário e está acamado há anos devido a uma doença degenerativa.) 

Os planos de IPO só foram retomados no fim do ano passado, depois que um novo acordo de acionistas, assinado em novembro, colocou fim à disputa.

Segundo um relato do correspondente do Valor em Belo Horizonte, no final do ano passado, o novo acordo reduziu os poderes da primogênita, Áurea, que terá menos autonomia para vetar movimentos de venda e aquisições (antes, podia bloquear qualquer operação que superasse os R$ 200 milhões).

Áurea era a única resistente a abrir mão de sua fatia na companhia e foi responsável pelo veto a uma fusão com o Fleury, costurada durante meses pelo Gávea em 2014.

Os irmãos Victor – presidente do conselho – e Regina eram a favor da operação, e o episódio azedou uma relação que já era conturbada e passou a ser mediada por advogados.

Antes do IPO, cada um dos filhos do fundador tinha 23,3% do laboratório, e o Gávea tinha os 30% restantes. O novo acordo foi assinado com a condição de suspensão dos processos enfrentados por Áurea na Justiça.

Em 2015, Hermes Pardini e sua esposa, Carmen, haviam entrado com uma ação contra a filha, alegando que ela não lhes repassava os dividendos devidos no negócio. Áurea alegou que o processo foi arquitetado pelos irmãos para afastá-la do laboratório. 

O Hermes Pardini tem 109 unidades em Belo Horizonte, Goiânia, Rio e São Paulo e deve faturar R$ 1 bilhão este ano.

A operação de hoje foi coordenada pelo Itaú BBA (líder), Morgan Stanley, Bradesco BBI, BofA-Merrill Lynch e JP Morgan.

 
Até a noite desta quinta, a Hermes Pardini ainda não tinha um site de relações com investidores.