Quando tinha 16 anos, Pedro Englert participou de um programa de 14 semanas da Junior Achievement, uma ONG global que investe em preparar os jovens para o empreendedorismo.
Aquilo mudou sua vida.
Na formação, Englert criou todo o business plan de uma empresa do zero e desenhou uma estratégia para fazer o negócio crescer.
O jovem do Rio Grande do Sul — que sonhava em empreender mas nunca tinha tido contato com esse mundo — saiu da formação com a convicção de que esse era o caminho que queria seguir. Nos meses seguintes, como parte do programa, também participou de reuniões com empresários de seu Estado para contar sua história e falar sobre os desafios do empreendedorismo.
“Na minha formação profissional, a Junior Achievement talvez tenha sido uma das coisas mais importantes que me aconteceu,” Englert disse ao Brazil Journal.
O resto da história já está inscrito nos anais do empreendedorismo brasileiro.
Englert foi um dos primeiros sócios da XP, onde trabalhou por mais de 10 anos. Na sequência, ajudou a fundar diversas startups, incluindo a StartSe, Warren, Monkey Exchange e Conta Simples.
Agora, o empresário de 43 anos quer devolver à sociedade o que recebeu da Junior Achievement. Há dois meses, ele assumiu como presidente do conselho consultivo da filial brasileira — e está executando um plano para dobrar seu impacto.
Ano passado, a Junior Achievement impactou 400 mil jovens de 12 a 24 anos com seus 20 programas de formação — incluindo aquele curso de 14 semanas de empreendedorismo, o mais completo de todos. Este ano a meta é impactar 600 mil jovens e, ano que vem, escalar para mais de 1 milhão.
“Já fizemos uma reorganização interna do time, revisamos o portfólio e estamos investindo mais na nossa plataforma digital, a Inspire Junior Achievement. O que falta para escalar é conseguir mais doações,” disse Englert.
A Junior Achievement vive basicamente do apoio de empresários e empresas — que doam para a manutenção da organização e projetos específicos. Entre os doadores estão a família Ling; Fábio Barbosa, o CEO da Natura&Co; Jorge Gerdau; Marcelo Carvalho, o controlador da Ancar Ivanhoe; além de empresas como a Accenture, HP, IBM, Volvo e Disney.
Este ano, o orçamento da ONG no Brasil é de R$ 14 milhões. O objetivo de Englert é chegar a R$ 24 milhões no ano que vem, o que vai permitir escalar os projetos.
Os esforços da Junior Achievement — “JA” para os íntimos — vêm num momento em que os avanços tecnológicos têm tornado o conhecimento ainda mais essencial para os jovens.
“Educação e conhecimento nunca foram tão determinantes para o futuro de alguém. A falta de conhecimento te marginaliza da sociedade como nunca antes. Por outro lado, o acesso à informação permite uma mobilidade social que também não existia no passado,” disse Englert.
Segundo ele, a JA ajuda os jovens de três formas principais: dando referências, tanto de empresários bem sucedidos quanto de pessoas que saíram do zero e hoje têm uma carreira de sucesso; melhorando a autoestima e a coragem para empreender; e fornecendo ferramentas que diminuem as barreiras do caminho.
Desde que entrou no País, há 40 anos, a ONG já impactou mais de 6 milhões de jovens em 20 Estados.
Um desses jovens foi Davi Gomes, que nasceu e cresceu na Vila Vintém, uma comunidade do Rio de Janeiro. No ensino médio, ele participou da formação de 14 semanas da JA que mudou seu olhar sobre o mundo.
No mesmo ano, ele começou a vender o Sanduba do Davi para conseguir pagar uma escola particular e depois participou do Desafio Tack, uma competição de inovação para jovens do ensino médio, que lhe permitiu palestrar na Brazil Conference, em Harvard.
Hoje, Davi trabalha na Ancar Ivanhoe e tem seu próprio projeto social, que ajuda a arrecadar alimentos para famílias carentes da sua comunidade.
Fundada há mais de 100 anos, a Junior Achievement nasceu nos Estados Unidos com o objetivo de ajudar a formar jovens que estavam migrando do campo para as cidades em busca de trabalhos na indústria.
Os tempos mudaram, mas Englert vê um paralelo entre os dois momentos históricos.
“Hoje vivemos uma nova transformação. Saindo de uma visão industrial para uma visão digital, de tecnologia. Preparar os jovens para esse novo ambiente é fundamental,” disse ele.
“Quando o jovem está inserido nesse mundo, ele é muito mais democrático. O que diferencia uma pessoa da outra é a vontade dela de buscar isso. Quando ela vai atrás, o mundo se abre para ela, porque hoje o mundo é muito mais aberto que no passado.”
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