A Randon está em fase de testes do seu primeiro veículo autônomo.
Porém, não se trata de um caminhão autônomo da fabricante de carretas, freios e suspensões de Caxias do Sul – e a Randon nem quer competir com as montadoras, as principais clientes de suas autopeças.
Nas palavras do CEO Sérgio Carvalho, o veículo é uma espécie de “tratorzinho” que permite o deslocamento de carretas em ambientes controlados sem a necessidade de nenhuma intervenção humana.
“Imagine o seguinte: existe uma carreta parada em uma posição pré-determinada que precisa ser movimentada para a área de estacionamento. O tratorzinho vai para a posição, engata a carreta e, sem ninguém, leva para o lugar desejado e desengata,” disse Carvalho ao Brazil Journal. “Não vi ninguém fazer isso no mundo.”
Segundo o executivo, o veículo – uma solução integrada de hardwares, inteligência artificial e machine learning – e está próximo do nível 5 de automação, o mais alto de todos, e deve chegar ao mercado nos próximos dois anos.
Esse avanço nos veículos autônomos é apenas mais uma das invenções dos “professores pardais” – como Carvalho chama carinhosamente os engenheiros e cientistas do Instituto Hercílio Randon, criado pela companhia em 2017 como a primeira instituição brasileira de ciência e tecnologia voltada ao setor automotivo, e do Centro Tecnológico Randon.
No total, são 290 pessoas ligadas a essa área. A maior parte dos profissionais são mestres e doutores.
“Esse grupo tem sido transformacional para a nossa empresa. Se quisermos inovar, não é possível deixar os nossos ‘professores pardais’ tendo que lidar com a pressão do mês e do trimestre,” disse Carvalho.
A ordem é buscar a disrupção dentro do setor automotivo – mas também olhar para atividades que complementam o negócio das montadoras.
A área de materiais compósitos, por exemplo, é uma das de maior potencial na visão do CEO. O negócio consiste na combinação de dois ou mais materiais diferentes para criar um novo muito mais resistente.
Um dos produtos mais recentes criados por este time é um aditivo nanoestruturado com nióbio que aumenta a resistência à corrosão em até 70% em materiais como aço, ferro e alumínio.
Segundo Carvalho, a Randon já fatura “algumas dezenas de milhões” com materiais compósitos, mas ele enxerga um potencial de R$ 1 bilhão em um futuro não tão distante.
No terceiro tri, a área de tecnologia avançada – que inclui o tratorzinho autônomo – teve um faturamento de R$ 32,8 milhões, queda de 20% em relação ao ano anterior. Isso aconteceu, principalmente, pela falta de semicondutores na Auttom, uma subsidiária da Randon especializada em automações fabris.
Apesar desta queda, Carvalho disse que a receita de outras áreas da empresa já está sendo impactada pelas inovações. “Temos negócios que estão no início de uma curva exponencial. Agora não é significativo, mas o impacto será visto logo,” disse.
Grande parte do faturamento da Randon vem do mercado de caminhões (que deve fechar o ano com uma queda de 40% na produção), mas a empresa tem performado melhor que o setor: a receita no terceiro tri foi de R$ 2,9 bilhões, queda de 5%.
As margens também retraíram – a margem EBITDA, por exemplo, caiu 0,7 ponto para 13,7%. O problema: a empresa ainda tem um excesso de estoque de matérias-primas formado a preços acima dos praticados atualmente.
“Vamos ter uma normalização nos próximos trimestres com a diminuição dos estoques,” disse Carvalho.
A Randon também continua em busca de aquisições – especialmente de empresas que possam contribuir com seu ecossistema de inovação. A companhia tem alavancagem de 1,35x, e Carvalho enxerga espaço para chegar a 2x caso boas oportunidades surjam.
As ações da Randon sobem 50% nos últimos 12 meses. A empresa vale R$ 3,9 bilhões na B3.