A Hapvida disse que vai focar em rentabilizar sua carteira, com reajustes agressivos este ano, ao mesmo tempo em que avança na verticalização e integração das operações da Intermédica em São Paulo, Rio e no Sul.
As duas medidas — uma tentativa da operadora de saúde de recuperar margens num momento de sinistralidade recorde no setor — foram o centro gravitacional do investor day da empresa, que aconteceu hoje cedo num hotel em São Paulo.
O papel sobe quase 8% no início da tarde, liderando as altas do Ibovespa, com o mercado aplaudindo o discurso.
A Hapvida disse que já conseguiu fazer reajustes importantes no mês de maio em cerca de 50% da carteira que fez aniversário no mês.
Segundo a empresa, os preços dos planos foram aumentados em 14,5% nas grandes contas (com mais de 3 mil vidas); em 18% nas contas empresariais, que respondem por cerca de 15% do top line; e em 21,5% nas PMEs. Nos planos individuais, cujo reajuste é definido pela ANS, o aumento ficou em 9,4%.
No consolidado, a expectativa da Hapvida é fechar o segundo tri com um reajuste médio de 15% — uma aceleração importante em relação ao que ela entregou no primeiro trimestre (cerca de 11%).
O CEO Jorge Pinheiro disse que a meta é conseguir fazer esses reajustes mantendo a base de beneficiários igual ou até um pouco maior em relação ao início do ano.
“Nosso objetivo este ano é recuperar as margens, e isso pode vir em desfavor do crescimento. Mas claro que temos metas internas audaciosas de crescimento. Temos 2 mil leitos ociosos, e se crescermos de forma acelerada em regiões que fazem sentido e ao mesmo tempo conseguirmos ser mais eficientes em portfólios rentáveis isso seria o melhor dos mundos,” disse ele. “Mas a prioridade principal é recomposição de margens.”
Os reajustes são a principal ferramenta da empresa para tentar controlar a sinistralidade, que disparou nos últimos trimestres junto com todo o mercado.
Basicamente, esse aumento teve a ver com a pandemia, a inflação dos últimos anos e a implementação de novas terapias no rol de coberturas obrigatórias da ANS — por exemplo, o tratamento para o autismo.
No primeiro tri, a sinistralidade da Hapvida ficou em 72,3%, bem acima da sua média histórica mas ainda abaixo da média do mercado, que tem visto níveis acima de 90%.
Outra medida para melhorar a rentabilidade é o aumento da verticalização e integração na chamada ‘regional II’ — que reúne as operadoras e hospitais da Intermédica em São Paulo, Rio e no Sul.
Essa operação está com um nível de verticalização muito menor que o da ‘regional I’ — as operações no Norte, Nordeste, Centro Oeste, e interior de São Paulo — e a meta da Hapvida é atingir o mesmo patamar de verticalização e integração em toda a empresa até meados do ano que vem.
Isso passa, principalmente, pela padronização do atendimento e integração de sistemas e tecnologias.
Heraldo Silva, o vp de operações da Hapvida que lidera a regional II, disse que a empresa tem mais de 50 iniciativas para trazer a vertical para o mesmo nível do resto da empresa. “É um trabalho de catequese, de mostrar o sistema, as vantagens e ir fidelizando a rede,” disse ele.
Segundo Heraldo, essas iniciativas envolvem desde o aumento da rede própria nessas regiões até a implementação de sistemas alternativos de remuneração, que geram mais alinhamento.
Cândido Pinheiro, o fundador da companhia, disse que a Hapvida está em “velocidade de cruzeiro para implantar na Intermédica um modelo verticalizado que vocês vão aplaudir.”
“Quando conseguirmos implantar os sistemas, em abril [do ano que vem], vamos disparar a uma velocidade de Fórmula 1 em controle de qualidade e custos na Intermédica. Porque na Hapvida já estamos assim há muito tempo,” disse o empresário, que fundou a companhia a partir de uma modesta clínica oncológica em Fortaleza há 44 anos.
No evento, que reuniu cerca de 200 gestores e analistas do sellside, Jorge pediu desculpas pelos ruídos de comunicação nos últimos trimestres — uma das grandes queixas dos investidores.
“Estávamos com uma governança mais difícil. Com dois CEOs, dois times separados. Um time de RI que falava com o mercado com crenças e pensamentos próprios num ambiente que ainda estávamos conhecendo as empresas,” disse ele. “Esse desafio de governança gerou ruídos com o mercado e peço desculpas por isso. Mas hoje vivemos um momento diferente. Desde janeiro, quando notamos que precisávamos de mudanças para acelerar os processos de integração, antecipamos mudanças que só ocorreriam em dois anos, em março de 2025.”
O CFO Mauricio Teixeira também explicou o plano de reestruturação societária da empresa, que quando concluído deve levar a créditos fiscais de mais de R$ 6 bilhões por ano, gerando uma redução de impostos de R$ 2 bi/ano.
Essa reestruturação está dividida em algumas etapas. Este ano, o plano é incorporar 17 entidades que estão separadas hoje (entre hospitais e operadoras adquiridos nos últimos anos), o que deve gerar R$ 172 milhões/ano de créditos fiscais. No ano que vem, a Hapvida deve incorporar outras 20 entidades, gerando mais R$ 758 milhões/ano.
Após esse processo, deve acontecer a unificação da Hapvida e Intermédica numa única entidade, gerando mais R$ 300 milhões por mês de créditos fiscais.
“Quando fizermos esse movimento final vamos ter uma empresa única, operadora de saúde e dona de hospitais, que terá as debêntures dentro e os créditos fiscais de aquisições passadas,” disse o CFO. “Isso vai gerar uma amortização fiscal de R$ 6 bi por ano. Como podemos aproveitar 34% disso de crédito de imposto, vamos ter R$ 2 bi para compensar.”